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Jovens, pobres e negros reconhecidos negam discurso da meritocracia

11 de junho de 2019

Sharah dos Santos e Anderson Alves são pesquisadores e irão apresentar artigo em congresso de Harvard, nos Estados Unidos. Os dois negam lógica de meritocracia em suas histórias, mas defendem oportunidades iguais

Texto / Lucas Veloso I Imagem / Acervo pessoal I Edição / Pedro Borges

Pretos, pobres e moradores da periferia do Rio de Janeiro. Esses são alguns títulos facilmente colados em Sharah dos Santos e Anderson Alves. 

Ele, de Magalhães Bastos, zona oeste do Rio, está vivendo em Buenos Aires, na Argentina. Depois de terminar a graduação, o jovem se candidatou e passou no programa de Filosofia da UBA – Universidade de Buenos Aires – para o curso de Antropologia Social, mas assim que chegou, foi em busca de cursos gratuitos que poderia cursar. No fim, foi admitido no curso de História e Memória da Universidade Nacional de La Plata, a UNLP. Ali começou o curso de mestrado na instituição, onde vai uma vez por semana.

Sharah, nascida e crescida em Duque de Caxias, também no Rio, foi a primeira da família a acessar a universidade pública. “Na minha casa, a educação sempre foi muito valorizada. Minha mãe sempre sempre incentivou que eu e meus irmãos continuassem os estudos”, relembra. 

Durante a graduação, fez alguns estágios e terminou com trabalho sobre um coletivo de mulheres negras na faculdade. Logo que concluiu, passou na seleção para o mestrado, onde cursa Educação, Cultura, Comunicação e Periferias Urbanas.

Os dois se conheceram na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde estudaram Pedagogia. Hoje os mestrandos se preparam para o próximo desafio de suas trajetórias acadêmicas. Um trabalho produzido na faculdade foi aprovado no primeiro encontro continental de estudos afro-latino-americanos, que acontecerá entre os dias 11 e 13 de dezembro na universidade de Harvard. 

O artigo escrito reflete sobre o trabalho intelectual de negros dentro da academia. A proposta é relacionar as políticas afirmativas raciais com a entrada de alunos das classes mais pobres, e entender a mudança na produção acadêmica e científica nas universidades.

Trajetória

Com 16 anos, Alves precisou trabalhar como atendente em uma rede de lanchonete. Nesse período ajudava em casa e dava conta de suas despesas com os estudos. Enquanto frequentava a universidade, levava marmita, além de ficar mais de duas horas dentro do trem que o levava de casa até a sala de aula. “Fui o primeiro da família a acessar o ensino superior. Sou um dos únicos entre as turmas que estudei na escola. A maioria dos meus amigos morreu assassinada ou vive clandestinamente”, desabafa.

A vida de Sharah não foi muito diferente. Desde cedo, a jovem enfrentou uma série de dificuldades financeiras.

Ainda assim, nenhum dos dois acredita na meritocracia, conceito que vincula o esforço e dedicação com conquistas pessoais. “Na sociedade brasileira, o que define os lugares que as pessoas ocupam é a oportunidade de acessar os direitos básicos, que ficam restritos a quem detêm um poder aquisitivo maior”, pontua a mestranda. 

“Se a gente for pensar em um a pessoa que vem de uma família rica e uma que vem das classes populares, a mais pobre é quem faz mais esforço para alcançar seu objetivos, ao contrário dos privilegiados”, exemplifica.

Na mesma linha de pensamento, Alves acredita que as condições sociais, econômicas e culturais na vida das pessoas alteram suas possibilidades.”Tive a oportunidade de sair do meu país de origem, estudar fora do meu Brasil e vivenciar essa experiência, mas isso não impede as diversas violências enfrentadas e as dificuldades que vivencio hoje, como o racismo e a falta de dinheiro”.

Para ele, o esforço não é o único argumento que explica suas conquistas. “Acredito em um conjunto de avanços que tornaram possível a minha chegada em determinados espaços. A meritocracia existe quando todos os sujeitos efetivamente usufruem dos mesmo direitos básicos, e plenos, além de viverem em condições sociais e econômicas iguais, fora isso, eu só vejo desigualdade”, defende.

 

Pretos, pobres e moradores da periferia do Rio de Janeiro. Esses são alguns títulos facilmente colados em Sharah dos Santos e Anderson Alves.

 

Ele, de Magalhães Bastos, zona oeste do Rio está vivendo em Buenos Aires, na Argentina. Depois de terminar a graduação, o jovem se candidatou e passou no programa de Filosofia da UBA – Universidade de Buenos Aires – para o curso de Antropologia Social, mas assim que chegou, foi em busca de cursos gratuitos que poderia cursar. No fim, foi admitido no curso de História e Memória da Universidade Nacional de La Plata, a UNLP. Ali começou o curso de mestrado na instituição, onde vai uma vez por semana.

 

Sharah, nascida e crescida em Duque de Caxias, foi a primeira da família a acessar a universidade pública. “Na minha casa, a educação sempre foi muito valorizada. Minha mãe sempre sempre incentivou que eu, e meus irmãos, continuassem os estudos”, relembra.

 

Durante a graduação, fez alguns estágios e terminou a graduação com trabalho sobre um coletivo de mulheres negras na faculdade. Logo que concluiu, passou na seleção para o mestrado, onde cursa Educação, Cultura, Comunicação e Periferias Urbanas.

 

Os dois se conheceram na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde estudaram Pedagogia. Hoje, os mestrandos, se preparam para o próximo desafio de suas trajetórias acadêmicas. Um trabalho produzido na faculdade foi aprovado no primeiro encontro continental de estudos afro-latino-americanos, que acontecerá entre os dias 11 e 13 de dezembro na universidade de Harvard.

 

O artigo escrito reflete sobre o trabalho intelectual de negros dentro da academia. A proposta é relacionar as políticas afirmativas raciais com a entrada de alunos das classes mais pobres, e entender a mudança na produção acadêmica e científica nas universidades.

 

Trajetória

 

Com 16 anos, Alves precisou trabalhar como atendente em uma rede de lanchonete. Nesse período ajudava em casa e dava conta de suas despesas com os estudos. Enquanto frequentava a universidade, levava marmita, além de ficar mais de duas horas dentro do trem que o levava de casa até a sala de aula. “Fui o primeiro da família a acessar o ensino superior. Sou um dos únicos entre as turmas que estudei na escola. A maioria dos meus amigos morreu assassinada ou vive clandestinamente”, desabafa.

 

A vida de Sharah não foi muito diferente. Desde cedo, a jovem enfrentou uma série de dificuldades financeiras.

 

Ainda assim, nenhum dos dois acredita na meritocracia, conceito que vincula o esforço e dedicação com conquistas pessoais. “Na sociedade brasileira, o que define os lugares que as pessoas ocupam é a oportunidade de acessar os direitos básicos, que ficam restritos a quem detêm um poder aquisitivo maior”, pontua a mestranda.

 

“Se a gente for pensar em um a pessoa que vem de uma família rica e uma que vem das classes populares, a mais pobre é quem faz mais esforço para alcançar seu objetivos, ao contrário dos privilegiados”, exemplifica.

 

Na mesma linha de pensamento, Alves acredita que as condições sociais, econômicas e culturais na vida das pessoas alteram suas possibilidades.”Tive a oportunidade de sair do meu país de origem, estudar fora do meu Brasil e vivenciar essa experiência, mas isso não impede as diversas violências enfrentadas e as dificuldades que vivencio hoje, como o racismo e a falta de dinheiro”.

 

Para ele, o esforço não é o único argumento que explica suas conquistas. “Acredito em um conjunto de avanços que tornaram possível a minha chegada em determinados espaços. A meritocracia existe quando todos os sujeitos efetivamente usufruem dos mesmo direitos básicos, e plenos, além de viverem em condições sociais e econômicas iguais, fora isso, eu só vejo desigualdade”, defende.

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