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Lideranças de religiões de matriz africana se opõem ao retorno dos cultos presenciais

“Os pedidos de volta dos cultos estão mais ligados às perdas financeiras de entidades religiosas do que a preocupação com o exercício da fé”, avalia ialorixá ouvida pela Alma Preta

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Clara Nascimento

Lideranças de religiões de matriz africana se opõem ao retorno dos cultos presenciais

5 de abril de 2021

Lideranças de religiões de matriz africana se posicionaram contrárias ao retorno dos cultos presenciais, mesmo com limitação da capacidade máxima, durante a pior fase da pandemia. Os terreiros estão com as atividades suspensas desde o começo da crise provocada pela Covid-19.

“Os pedidos de volta dos cultos estão mais ligados às perdas financeiras de entidades religiosas do que a preocupação com o exercício da fé. Sacerdotes e sacerdotisas precisam preservar suas comunidades e educá-las para preservação da vida, o nosso maior bem. A manutenção da fé se dá de diversas formas e ela é importante, mas o culto presencial não”, considera a ialorixá Omilade, do terreiro Ègbé N’la Yemoja, da Zona Sul de São Paulo.

Pouco mais de 9% da população brasileira já recebeu a primeira dose da vacina contra o coronavírus, segundo dados oficiais dos governos estaduais. A imunização ideal seria de no mínimo 70%, na avaliação da OMS (Organização Mundial de Saúde), para que fosse alcançada a chamada imunização de rebanho. Isso sem considerar a existência de variantes do vírus que colocam em risco mesmo quem já foi imunizado. Neste cenário, o ministro Kassio Nunes Marques decidiu liberar os cultos religiosos presenciais com até 25% da capacidade máxima.

“Os espaços religiosos são de cuidado espiritual sim, mas não podem se contrapor, de forma alguma, à preservação da vida. Hoje, preservar a vida é manter o isolamento social”, destaca Felipe Brito de Omolu, Baba Ẹgbẹ do Ile Odẹ Maroketu Àṣẹ Ọba, na Zona Leste da capital paulista.

O Conselho Político da Ocupação Cultural Jeholu recomendou, por meio de publicação em suas redes sociais, que  “suspendam, não somente, as atividades públicas, mas também, as atividades internas das nossas comunidades de terreiro com objetivo de não ampliar o contágio pelo Covid-19”. A Ocupação Cultural Jeholu representa dezenas de terreiros e comunidades tradicionais de matriz africana.

Autorização para cultos religiosos atende igrejas evangélicas

A decisão do ministro Nunes Marques, que se refere a todas as manifestações religiosas, atende ao pedido da Anajure (Associação Nacional dos Juristas Evangélicos). De acordo com a determinação do ministro, que entra em vigor até que o tema seja avaliado pelo plenário do STF (Supremo Tribunal Federal), os templos terão que providenciar distanciamento social, com espaçamento entre assentos; uso obrigatório de máscaras; disponibilização de álcool em gel na entrada dos templos; e aferição de temperatura.

Por outro lado, a decisão isolada do ministro Marquês, divulgada na véspera do feriado de Páscoa, vai na contramão do que o próprio Supremo já tinha decidido, dando liberdade para que os prefeitos deliberassem sobre o que poderia ou não abrir durante a pandemia.

No Twitter, o líder da FNP (Frente Nacional dos Prefeitos), Jonas Donizete, de Campinas, questionou e pediu um posicionamento do presidente do Supremo, Luiz Fux, sobre a polêmica. No perfil oficial da frente, uma postagem afirma que “esse contradição pode ser considerada mais uma das inúmeras dificuldades de diálogo enfrentadas pela federação brasileira”.

“A responsabilidade da liderança religiosa é orientar a sua comunidade para ficar em casa, esclarecer sobre a importância de tomar a vacina, usar corretamente a máscara”, pondera Iyá Adriana de Nanã, sacerdotisa do Ilê Axé Omó Nanã, artista plástica, membro da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz.

O Brasil contabilizou até o início deste mês de abril 331 mil mortes decorrentes da Covid-19. No estado de São Paulo, epicentro da pandemia, foram 77 mil mortes, mais óbitos do que a soma das mortes no Rio de Janeiro (37,6 mil) e Minas Gerais (25,6 mil), segundo e terceiro, respectivamente, na lista das estados com mais vidas perdidas na pandemia.

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