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Livro aborda perfil racista da mobilidade urbana no Brasil

Com dados e documentos, obra aponta como a população negra é atingida por restrições no direito de ir e vir; segundo publicação, “catracas” reproduzem a lógica dos tempos de escravidão

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Fotos Públicas

Passageiros com máscara em BRT lotado no Rio de Janeiro, exemplo de mobilidade racista

7 de junho de 2021

O livro “Mobilidade Antirracista”, da editora Autonomia Literária em parceria com a Fundação Rosa de Luxemburgo, aborda como a mobilidade urbana é tratada no Brasil a partir de uma lógica do racismo estrutural, apesar da Constituição Federal determinar que se trata de um direito essencial da população.

Organizado por Rafaela Albergaria, Daniel Santini e Paíque Santarém, a obra reúne artigos, textos e entrevistas sobre racismo e mobilidade urbana produzidos por artistas, intelectuais, estudantes e trabalhadores, que revelam como o transporte coletivo é uma continuação do navio negreiro, pois ainda hoje o controle dos corpos negros é uma maneira de mpedir a ocupação dos centros urbanos, os concentrando nas periferias, onde são “sistematicamente vigiados, confinados e reprimidos”.

Um exemplo apresentado no livro é o investimento em infraestrutura. No Rio de Janeiro, foi gasto R$ 8,5 bilhões na ampliação do metrô na Zona Sul, enquanto os trens metropolitanos, que operam no subúrbio, receberam R$ 1,2 bilhão, de acordo com o mapeamento da Casa Fluminense nas despesas dos megaeventos de 2014 e 2016. Na Zona Sul, circulam 300 mil passageiros por dia e nos trens do subúrbio são cerca de 600 mil passageiros por dia.

Em 2020, 42,5% dos atropelamentos ferroviários com morte no Brasil aconteceram na região metropolitana do Rio e 82,4% das vítimas eram negras. Integrantes negros do MPL (Movimento do Passe Livre), que lutam por democracia e gratuitidade no transporte público, afirmam que a sociedade racista no Brasil “impõe catracas com diferentes níveis de crueldade” desde a época do saque colonial e da escravidão.

O livro lembra que o cálculo das tarifas, na maioria dos sistemas, é feito a partir de uma base “perversa” que considera o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK). A passagem [e a possibilidade de mobilidade] fica mais cara para quem mora longe, recebe menos e tem renda mais variável. Na pandemia, quando caiu o número de passageiros, as empresas diminuiram o total de veículos em circulação para manter o lucro.  A lotação no transporte público contribuiu com a disseminação da Covid-19, principalmente nas periferias.

Território e trabalho

Na obra, também são dados exemplos da ação do racismo no controle social e opressão das populações negras e pobres, como a militarização de territórios, que no Rio de Janeiro foi tratada como política de segurança pública do governador Sérgio Cabral, com a implantação das UPP (Unidades de Polícia Pacificadora).

A jornalista Katarine Flor entrevistou para o livro o Paulo Galo Lima, do movimento Entregadores Antifascistas, que analisou a política de exploração sofrida por jovens negros desempregados nas grandes cidades, também fruto da segregação urbana.  “Os aplicativos não estão no ramo do delivery, mas no ramo da exploração”, disse o ativista.

O livro, de 400 páginas, traz ainda entrevistas com os músicos Bnegão, GOG e Higo Melo que fizeram música sobre mobilidade urbana e racismo. Tem também um texto do Daniel Caribé sobre os problemas envolvendo o financiamento do transporte coletivo em Salvador. A abertura da livro  é a poesia “Passageiro do Último Vagão”, da poeta Elisa Lucinda.

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