Quando a assistente social Lúcia Xavier co-fundou a ONG CRIOLA, em 1992, talvez não tivesse a perspectiva de onde a sua luta por combate ao racismo contra mulheres e meninas cis e trans pudesse chegar. Liderança no movimento negro desde 1980, Lúcia sempre se interessou por política, fundando grupos de estudos desde a época da escola. Hoje, aos 65 anos, está à frente de uma das maiores organizações de combate ao racismo patriarcal cis heteronormativo do país.
CRIOLA nasce da natureza de Lúcia e mulheres como Jurema Werneck, de transformar as estruturas que tornam o mundo um lugar desigual, especialmente para meninas e mulheres negras. Sobretudo o Brasil, país que mais mata transsexuais e o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio.
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Desde nova, sempre se interessou por política, filosofia e justiça social. Hoje, é conselheira do Global Fund for Women, dedicado a projetos sociais para fortalecimento das mulheres. Apoiada pela ONU Mulheres, integra o Comitê de Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030. Em 2022, discursou pela primeira vez na Organização, durante a 49ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em celebração ao Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial.
Hoje, CRIOLA é referência para três gerações de mulheres e meninas negras, produzindo dados e articulando o poder público para a criação de políticas que garantam o acesso a direitos básicos, muita vezes negados. Lúcia Xavier não está sozinha. A ONG é parceira de 12 associações de mulheres em todo o território brasileiro, além de contar com uma equipe majoritariamente composta por mulheres negras, especialistas em todas em áreas que CRIOLA incide como saúde, justiça climática, combate à violência racial e de gênero, tecnologia e comunicação.
Com CRIOLA, Lúcia consolidou-se referência no fortalecimento das bases que modificam estruturas sociais racistas e patriarcais desde os tempos da colonização. Em parceria com organizações, pesquisadoras e ativistas da sociedade civil das cinco regiões do país, produziu publicações relevantes como “Números da Violência Racial e de Gênero Contra Meninas e Mulheres Negras Cis e Trans no Brasil”, “Agenda das Mulheres Negras Construindo o Futuro com Justiça Climática” e, recentemente, iniciou o projeto “Sáude das Mulheres Negras”, uma parceria com 26 articuladoras da capital e da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, que, juntas, criam estratégias políticas de combate ao racismo no sistema de saúde em seus territórios.
Lúcia Xavier também é uma das fundadoras da Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontece desde 2015, em Brasília, reunindo lideranças femininas de todo o país.
“A segunda Marcha de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá no dia 25 de novembro de 2025, em Brasília, é um dos mais importantes atos políticos do país, na atualidade. Nós, mulheres negras cis e trans, marcharemos para afirmar a sua condição de sujeito político em disputa pelo direito a reparação pelos danos históricos causados pela escravidão e pelas desigualdades raciais vividos até os dias de hoje”, adianta Lúcia.
“Marcharemos também pelo fim das múltiplas violências a que estamos submetidas e pelo Bem Viver, concepção política fundamental para o fim do racismo patriarcal cisheteronormativo em nosso país”, complementa.
Neste mês, a comitiva liderada por Lúcia segue viagem para mais uma participação na Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW), a instância da Organização das Nações Unidas criada para promover a igualdade de gênero.