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Mãe Bernadete foi morta por se contrapor aos interesses do tráfico em quilombo

De acordo com a Polícia Civil, chefes do tráfico de drogas ordenaram o assassinato da ialorixá e líder quilombola
Imagem mostra Mãe Bernadete de óculos escuros dando entrevista para uma pessoa que está com celular. Ao fundo, há uma bandeira escrito queremos justiça.

Foto: Reprodução

16 de novembro de 2023

Chefes do tráfico de drogas ordenaram o assassinato da ialorixá e quilombola Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete. É o que concluiu a Polícia Civil da Bahia. A informação foi revelada em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (16), em Salvador.

Ainda nesta quinta, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) já havia revelado que cinco pessoas foram indiciadas pelo assassinato de Mãe Bernadete. O crime ocorreu no último dia 17 de agosto, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. Segundo a polícia, o mandante da execução liderava o tráfico na região.

“É claro, para a equipe de investigação, que a líder quilombola era legitimada pela comunidade, tinha liderança forte pelos interesses do quilombolas, e quando sua liderança se contrapôs aos interesses do tráfico na região, ela pagou com a própria vida”, disse a delegada Andréa Ribeiro, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pelas investigações do crime.

Investigação

Durante a coletiva, a Polícia Civil apresentou a linha de investigação do crime. Segundo o inquérito, Mãe Bernadete reprimiu um homem, identificado como Sérgio Ferreira de Jesus, de 45 anos, que praticava exploração ilegal de madeira na região. Insatisfeito com a quilombola, foi ele quem instigou o crime e auxiliou os executores na ação.

Antes de ser morta, Mãe Bernadete teve uma discussão com Ydney Carlos dos Santos de Jesus, o “Café”, um dos líderes do tráfico na região, que realizava festas para comércio de drogas. Ela se opôs à prática criminosa.

Sérgio Ferreira enviou mensagens a um parente de Josevan Dionísio dos Santos, que fez o áudio chegar a Ydney dos Santos, o “Café”, e Marílio dos Santos, o “Maquinista”, outro nome importante do tráfico no quilombo. Nas mensagens, Sérgio diz que Mãe Bernadete havia denunciado o tráfico.

“Alisson, fiquei sabendo aqui dentro do quilombo que Bernadete falou que no dia da festa vai cercar tudo de polícia, vai pegar todo mundo aí. Ela está mandando um ‘carro preto’ aí, cheio de polícia, para tirar fotos das barracas. Tudo é policial civil, diz que vai pegar vocês tudo de surpresa. Ela disse que vai dar risada quando todo mundo estiver na cadeia. Você fique ligado aí. Avisa ao ‘Café’ que ela está mandando os policiais. Fique ligado nos carros pretos, que é polícia, e vai pegar vocês tudo na ‘moita’”, diz Sérgio no áudio.

Após receber as informações, “Maquinista” e “Café” ordenam a morte de Mãe Bernadete. O assassinato se consumou na noite de 17 de agosto e, aponta a PC, contou com a cumplicidade de Sérgio Ferreira, que indicou a Josevan Dionísio dos Santos e Arielson da Conceição Santos a melhor rota para o crime. 

Após matar Mãe Bernadete com 25 tiros, Josevan e Arielson levaram os celulares da mulher e de seus netos. Sérgio Ferreira de Jesus envia um novo áudio para traficantes e pede que os celulares sejam descartados.

“O celular que você levou aí, tira a bateria, enterra o celular que está com o rastreador da (Polícia) Federal. Esconde bem escondido, arranca o chip e desliga o celular. Enterra essa peste, que já está com rastreador um aí que você levou. O dela está com o rastreador”, diz.

Indiciamento

Dois executores, dois mandantes e um partícipe foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, de forma cruel, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima. Um sexto envolvido, Carlos “Gyodai”, que teria guardado as armas utilizadas no crime e deu apoio na fuga de um dos atiradores, foi indiciado por posse ilegal de arma de fogo, em outro inquérito policial.

De acordo com MP-BA, Mãe Bernadete morreu por que lutava contra o tráfico de drogas. “Isso está fartamente comprovado na investigação por testemunhas, áudios de telefones apreendidos, intercepções telefônicas. As duas armas de fogo periciadas e o exame de balística comprovou que os 25 disparos saíram daquelas armas”.

Dos cinco suspeitos, três já estão presos, são eles Arielson, Sérgio e Carlos. Os mandantes e o autor dos disparos seguem foragidos.

Quem foi Mãe Bernadete?

Mãe Bernadete, de 72 anos, fazia parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do Governo Federal e era gestora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). A sede do quilombo Pitanga dos Palmares, onde ela vivia, era monitorada por câmeras de segurança. Apesar disso, três das sete não estavam funcionando no momento do crime, por falta de recursos.

Familiares relataram que Mãe Bernadete sofria ameaças há pelo menos dois meses. Neto da vítima, Wellington Gabriel de Jesus dos Santos, que estava na casa da avó na noite do ataque, disse à polícia que Mãe Bernadete passou a ter “muitos medos” após a morte de Flávio Gabriel Pacifico dos Santos, conhecido como “Binho do Quilombo”, em 2017. Binho era filho de Bernadete e pai de Wellington.

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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