O Fundo Agbara, por meio do Núcleo de Pesquisa e Memória da Mulher Negra (NUPEMN), lançou a pesquisa inédita “Diagnóstico sobre Filantropia e Raça no Brasil: Do centro das lutas às margens dos recursos”, um dos maiores mapeamentos já realizado no país sobre a atuação das organizações negras e seu acesso ao financiamento filantrópico.
O objetivo principal é enfatizar as organizações negras como agentes de transformação social e dialogar sobre a distribuição de recursos no país diante da urgência de descentralizar e ampliar os investimentos para estas organizações.
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Com intuito de contribuir para o campo refletir sobre suas práticas e subsidiar novas possibilidades, os dados intersecionam especificidades e apontam o que outros mapeamentos ainda não haviam revelado, como o fato de que 99% das instituições são compostas majoritariamente por pessoas negras, 89% são lideradas por mulheres negras, que as lideranças das organizações negras são em maioria significativa composta por mulheres cis 89,2%, e em segundo lugar, em uma proporção muito menor os homens cis 43,8%. Destacam-se, também, as pessoas trans, mulheres trans 6,8%, pessoas não binárias 6,2%, homens trans 3,5% e travestis 2,6%.
Além disso, 62% das organizações não conseguiram captar recursos no Brasil e 88% não obtiveram financiamento internacional, o que evidencia as dificuldades enfrentadas por essas iniciativas.
O estudo também aponta que mais da metade captam até R$ 5 mil por ano, enquanto a maior parte das pessoas envolvidas atua de forma não remunerada.
A pesquisa ressalta que a filantropia no Brasil, embora movimente um setor com cerca de 6 milhões de empregos, e apesar de seus esforços, ainda apresenta lacunas significativas na distribuição de recursos para organizações negras.
Este cenário revela a urgência de mudanças estruturais no financiamento social, para que essas iniciativas possam atuar de forma sustentável e ampliar seus impactos nos territórios onde estão inseridas.
De acordo com Aline Odara, diretora-executiva do Fundo Agbara, o levantamento reforça o protagonismo dessas organizações e a urgência de mudanças.
“É um marco essencial para compreender as desigualdades no acesso a recursos e evidenciar o protagonismo das organizações negras no enfrentamento das questões sociais mais urgentes do país. Nosso objetivo é não apenas revelar dados, mas também inspirar ações concretas que descentralizem o financiamento e fortaleçam essas iniciativas, permitindo que elas floresçam de forma sustentável e transformem suas comunidades com base em saberes ancestrais e práticas inovadoras”, afirma.
Atuação em territórios
No campo de atuação, essas organizações estão inseridas em territórios afetados por desafios socioeconômicos e em tradicionais, nos quais destaca-se como um exemplo de resistência contínua na preservação dos valores culturais e na manutenção das conexões com as origens africanas, ao mesmo tempo em que fortalece os laços de solidariedade entre as pessoas negras.
De acordo com a pesquisa, 42,6% das organizações atuam em territórios quilombolas, enquanto 37,6% estão presentes em comunidades tradicionais de matriz africana, reafirmando seu compromisso com a defesa das culturas e dos direitos de comunidades que, historicamente, enfrentam invasões, disputas territoriais e violência.
Além disso, estendem sua atuação a territórios ribeirinhos (18,1%), indígenas (12,8%) e marisqueiros (5,4%), refletindo a amplitude de seu impacto e a articulação com os desafios específicos enfrentados por esses povos.