Edição de 2018 trouxe pautas históricas do movimento negro, como o combate ao genocídio, e a necessidade de resistir em meio ao avanço do conservadorismo; protesto também homenageou Marielle Franco e mestre Moa do Katendê
Texto / Pedro Borges
Imagem / Aline Bernardes
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Cerca de 5 mil pessoas participaram da XV Marcha da Consciência Negra, que aconteceu no dia 20 de Novembro, terça-feira, data que marca a morte de Zumbi, um dos líderes do Quilombo dos Palmares.
A concentração do ato se iniciou às 13h, no vão livre do Masp, onde milhares de pessoas se reuniram para acompanhar a apresentação da bateria da escola de samba Vai Vai e ouvir as falas de abertura dos organizadores do protesto.
Os manifestantes começaram a caminhada rumo ao Teatro Municipal, no centro da cidade, às 16h, com uma comitiva de abertura formada por líderes religiosos de matriz africana. A chegada ao destino final se deu às 18h e o encerramento do ato foi marcado por uma colocação de Milton Barbosa, um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU).
A presença organizada na cidade e a demonstração de participação política da comunidade negra são alguns dos pontos centrais do ato, de acordo com Maria José Menezes, integrante do Núcleo de Consciência Negra da USP.
“É o momento de colocarmos as nossas ansiedades nas ruas, falarmos não ao racismo, à xenofobia, falarmos não à perda dos nossos direitos”.
Bateria da Vai Vai marcou presença no início da Marcha da Consciência Negra (Foto: Aline Bernardes/Alma Preta)
O genocídio e a violência cometida contra a comunidade negra foram uma das pautas da manifestação. Na faixa de abertura estavam os rostos de Marielle Franco e Moa do Katendê, assassinados neste ano, e homenageados pelos organizadores.
A violência policial e urbana, uma das características do genocídio negro, foram abordados ao longo da marcha, mas não só. José Henrique, integrante da Frente Alternativa Preta, contou que o ato combate o genocídio como um todo e resiste a todas violências postas contra a comunidade negra.
“A marcha também diz não à violência de morar na periferia e não ter posto de saúde, ter escolas de péssima qualidade, não ter moradia para abrigar você, seus filhos, irmãos. Essa violência que esse Estado perpetua há dezenas e centenas de anos exige unidade para resistirmos”.
A construção da marcha
As reuniões para a construção do ato ocorrem desde Agosto, quando diversas organizações, coletivos e ativistas se encontram de maneira semanal para articular o ato. Paula Nunes, integrante do coletivo Afronte, relatou o processo de construção e as pautas que foram pensadas para serem destacadas na edição de 2018.
“É um processo bastante unitário, que conta com a participação de várias entidades do movimento negro, coletivos, sindicatos, entidades do movimento popular, partidos políticos de esquerda. Todo mundo que acredita nesse processo de construção e na importância de fazer o 20 de Novembro um dia de luta”.
Presença marcante de mulheres negras na manifestação (Foto: Aline Bernardes/Alma Preta)
A construção teve o cuidado de recordar os heróis da comunidade negra na resistência ao racismo, do passado e dos dias de hoje.
“É um dia de lembrar todos os heróis que lutaram contra a escravidão, dentre eles Zumbi, Dandara, mas não só. É dia de lembrar os atuais, que lutam pelo combate ao racismo, genocídio”, conta Paula Nunes.