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Maria Firmina dos Reis, primeira romancista brasileira, é homenageada na FLUP de 2018

5 de novembro de 2018

Autora da obra “Úrsula”, Maria Firmino dos Reis foi por muito tempo silenciada pela literatura hegemônica nacional

Texto / Pedro Borges
Imagem / Divulgação

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A Feira Literária das Periferias (FLUP) homenageará a escritora Maria Firmino dos Reis e o sambista Martinho da Vila na edição deste ano. O evento começa no dia 6, terça-feira, e segue até o dia 11 de Novembro, domingo, com uma programação formada de maneira exclusiva por palestrantes e convidados negros.

Maria Firmino dos Reis, nascida em 11 de Março de 1822, é a primeira romancista brasileira, autora de “Úrsula”, livro publicado em 1859. A escritora faleceu em 11 de Novembro, de 1917, na cidade de Guimarães, Maranhão.

“Maria Firmina se insere num panteão de escritoras do século dezenove silenciadas pelo fato de serem mulheres. Mas é também preciso dizer que, diferindo de Nísia Floresta, por exemplo, que era de origem abastada e publicou no Rio de Janeiro, França e Itália, Firmina era mestiça, pobre e atuante no Maranhão, portanto, além da barreira de gênero, tinha como obstáculo também sua origem social e racial”, explica Luciana Diogo, uma das idealizadoras e gestora do portal Memorial de Maria Firmina dos Reis.

Três capítulos da obra Úrsula destacam personagem negros, descritos como sujeitos de sua história, e não figuras passivas ao período escravista. Nos capítulos IX, intitulado “A preta Susana”; o XVII, com o nome de “Túlio” e “A dedicação”, título do capítulo XVIII, Firmina inaugura no romance brasileiro do século XIX a narrativa em primeira pessoa de personagens negros.

Maria Firmino foi a primeira autora a construir uma narrativa posicionada contra a escravidão, antes mesmo de produções ícones da literatura nacional, como poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves (1869), e “A Escrava Isaura” (1875), de Bernardo Guimarães.

Anos mais tarde, a escritora também publicou as obras “Gupeva” (1861) e “A escrava” (1887), com críticas contundente ao escravismo, que viria ao fim no ano seguinte, em 13 de Maio de 1888.

Luciana Diogo também cita exemplos de como Maria Firmino dos Reis estava próxima da literatura produzida na época.

“O maior exemplo da inserção de Maria Firmina nos debates literários de seu tempo é o modo com que procurou dialogar com obras que teve acesso, em especial as aqui mencionadas, ambas de grande repercussão em seu tempo: A Cabana do Pai Tomás (1852) (essa obra citada por José de Alencar, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, por exemplo), e o poema “A Tempestade” (1848), de Gonçalves Dias”.

Eduardo Duarte, pesquisador da literatura afro-brasileira e um dos maiores especialistas na obra de Maria Firmina dos Reis, descreve algumas características da autora, a grande homenageada da FLUP de 2018.

“É uma literatura irmanada às tendências estéticas de seu tempo, basicamente romântica. E alinhada ao grande pensamento humanista do século 19 – a luta pelo fim da escravidão. Tais vertentes de atuação se fazem presentes tanto na ficção quanto na sua poesia, marcada por uma intensa melancolia”.

A autora de “Úrsula” só foi retomada pela academia em 1962, com o historiador Horácio de Almeida. Além de ter sido apagada, Maria Firmino passou pelo mesmo processo de muitos escritores negros e chegou a ser representada como uma mulher branca. Machado de Assis é outra figura que também passou por um processo de “embranquecimento”.

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