O memorial ‘Inumeráveis’ existe há um pouco mais de um ano como uma plataforma virtual que tem como proposta ouvir histórias de familiares e amigos em luto pelas vítimas da Covid-19. O projeto é de Edson Pavoni e Rogério Oliveira, que criaram um ambiente totalmente colaborativo, que busca a humanização da memória dessas pessoas, como um contraponto às estatísticas e números. Para amplificar as vozes dos movimentos da comunidade negra, dos povos indígenas, quilombolas, periféricos, pessoas com deficiência e comunidade LGBTQIA+, o Inumeráveis conta com um núcleo de Diversidade.
Gabriela Veiga, uma das lideranças do projeto, responsável pelo núcleo, em entrevista à Alma Preta Jornalismo, conta sobre a iniciativa que nasceu em abril de 2020 a partir do desconforto e da indignação de ver como a pandemia estava sendo tratada. “Quando nossos voluntários ligam para alguma família enlutada, eles lidam com toda a retrospectiva de como ocorreu a perda. E conduzimos a conversa para um lugar de celebração daquela vida que se foi”, conta Gabriela Veiga.
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Atualmente, os Inumeráveis contam com um número grande de colaboradores, que se comprometem em fazer com que o projeto aconteça de forma comprometida. Cerca de 80 profissionais voluntários, os jornalistas e escritores são responsáveis pela escuta e apuração das histórias. Os textos passam pelo processo de edição, apuração e moderação, até que seja publicado no site.
O Inumeráveis compreende esse espaço de contribuição como um objeto de estudo. À Alma Preta Jornalismo, a líder aponta que o maior número do quadro de histórias contadas no memorial Inumeráveis, são de pessoas pretas e periféricas.
Segundo levantamento do IBGE, mulheres, negros e pobres são os mais afetados pela Covid-19. A cada dez pessoas que relatam mais de um sintoma da doença, sete são pretas ou pardas. Vale lembrar também que a primeira vítima da pandemia no Brasil foi uma mulher negra, de 57 anos, empregada doméstica, que se infectou na casa da patroa.
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Lúcia Xavier é coordenadora geral da ONG Criola, além de representante da comunidade negra no núcleo de Diversidade, e convida ao envio de histórias a serem homenageadas no site Inumeráveis.
“A pandemia da Covid-19 deixou um rastro de perdas. E essa iniciativa é uma maneira de rendermos uma homenagem aos nossos entes queridos, aos nossos artistas, aos religiosos e religiosas de matriz africana, aos músicos, aos intelectuais, aos trabalhadores, aos jovens e crianças que tiveram as suas vidas ceifadas e agora fazem parte da nossa ancestralidade”, afirma Xavier.
O poeta cearense Bráulio Bessa, a partir de dados do memorial, compôs uma letra que homenageia o projeto Inumeráveis, que virou música na voz e violão de Chico César. “Se números frios não tocam a gente / Espero que nomes possam tocar”, enfatiza Chico César nos dois versos que se repetem como mantras na letra da canção Inumeráveis.