A preservação do Cemitério dos Escravos, em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), tem mobilizado autoridades e organizações devido às ameaças representadas por um projeto de rodovia municipal. Tombado pela prefeitura em 2008 e reconhecido como patrimônio cultural relevante por lei estadual em 2024, o cemitério é um símbolo da memória e da resistência negra na região.
Localizado nos Fechos, a sete quilômetros do Centro Histórico de Santa Luzia, o cemitério data dos séculos XVII e XVIII, com uma construção de alvenaria em pedra ocupando 150 metros quadrados.. Próximo ao local, a Comunidade Quilombola de Pinhões, com mais de 300 anos de história, abriga cerca de 400 famílias que preservam tradições herdadas de seus ancestrais.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Apesar de sua importância histórica, o local está ameaçado pela construção de uma rodovia municipal, prevista para ligar os bairros Imperial e Fecho. Em novembro de 2024, a Prefeitura de Santa Luzia declarou uma área de 121.670 metros quadrados como de utilidade pública para a obra, que impactará diretamente o entorno do cemitério.
Pouco depois, foi enviado à Câmara um projeto para renomear a via como “Rodovia Dâmaso José Diniz e Silva”, gerando críticas de organizações que defendem o patrimônio histórico e cultural.
Ações de proteção e obstáculos
A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT-MG), em parceria com a vereadora Suzane Almada (PT-MG), do Coletivo Luzias, acionou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para ampliar o tombamento do cemitério e viabilizar a regularização fundiária do Quilombo de Pinhões. A informação é do Brasil de Fato.
O Incra informou que o processo de regularização do quilombo foi iniciado em 2017, mas permanece paralisado devido à falta de pessoal técnico e ao acúmulo de demandas. Até o momento, não há cronograma para a conclusão do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), essencial para a titulação das terras.
Importância histórica e cultural
Fundada por negros escravizados no século XVIII, a Comunidade Quilombola de Pinhões se consolidou com a libertação dos escravizados e preserva práticas culturais e históricas que refletem sua luta e resistência. O Cemitério dos Escravos é um marco dessa história, simbolizando a presença e o legado da população negra na construção da região.