A escola de samba Nenê de Vila Matilde despediu-se de seu ‘Passista de Ouro’ Jhonata Henrique, que teve uma trajetória de glórias em sua escola de coração. No último domingo (3), ele participou do último ensaio da agremiação e, em seguida, morreu em um acidente de moto, na Avenida Doutor Assis Ribeiro, na Penha, zona leste de São Paulo.
“O Jhonata era muito importante, tínhamos uma relação de irmãos, com brigas, puxões de orelha e momentos que nunca vão sair da minha mente. Receber essa notícia foi muito forte. Ele estava bem, trabalhando no ramo têxtil, conquistando as coisas dele, ganhando tenência. Ele era muito liberto e não tinha tanta ciência das responsabilidades dele”, conta seu amigo João Vitor Arruda, integrante do Vai-Vai, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
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Com nove anos de idade Jhonata Henrique já frequentava a Mocidade Amazonense, que ficava próxima da casa em que morava. A escola, afiliada da Nenê de Vila Matilde, chegou a ceder sua quadra para a madrinha quando esta perdeu seu espaço. Foi durante um desfile de apresentação de fantasia da ala das crianças, que ele arriscou seus primeiros passos de samba e chamou muito a atenção. Logo, ganhou padrinhos e patrocínio.
Em 2015, o passista foi homenageado com a música ‘Malandro de Ouro’, da Nenê de Vila Matilde. O jovem desfilou também em outras escolas, como a Acadêmicos do Tatuapé, em 2016, que homenageou a Beija-flor de Nilópolis. Naquele momento, Jhonata foi o escolhido para interpretar o gari e passista Renato Sorriso, muito conhecido no carnaval do Rio de Janeiro.
“Na arte, ele foi intenso e querido, além disso teve conquistas memoráveis no Carnaval de São Paulo. Ele, aos 12 anos, foi nomeado Malandro de Ouro na Nenê de Vila Matilde. Para nós, ‘Passista de Ouro’ é o maior cargo enquanto passista em São Paulo. E, ter esse reconhecimento, é só para seres de luz como o Jhonata”, reitera Arruda.
No concurso de 2017, foi escolhido o ‘Passista de Ouro Juvenil’. Consecutivamente, outros títulos vieram, como o de ‘Embaixador dos Passistas Mirins’, que demarca a representatividade para a nova geração de meninos e meninas do samba. Em 2019, recebeu o título de ‘Passista de Ouro’ pela União das Escolas de Samba Paulistana (UESP).
“Ele era uma pessoa incrível, só de olhar para ele você sorria inesperadamente. Estamos sentindo a sua falta porque ele era amável. Não tinha como brigar com ele e não voltar a abraçar o Jhonata em cinco minutos. Essa perda é sobre você ter uma pessoa para cuidar o tempo todo e, de repente, ela não estar mais aqui”, relata João.
Em fevereiro deste ano, Jhonata participou do primeiro reality de samba, o Carnaval Wall, que reuniu 14 personalidades do carnaval de São Paulo, produzido pela MS Lab Produções. O entretenimento, que teve exibição online, mostrou um pouco da personalidade do passista da Vila Matilde.
Em uma entrevista ao site Carnavalesco que antecedeu o confinamento, Jhonata Henrique contou sobre sua trajetória e como o samba mudou sua vida: “Eu trabalhava no farol fazendo malabares, e no final da minha apresentação sempre dava uma sambadinha. Um harmonia da Nenê, Bernardo, me viu e disse que eu tinha que ir para escola de samba. Precisava ficar na casa de um, de outro para estar perto da Nenê, porque não tinha condições de ir aos ensaios”, disse o sambista, em fevereiro.
A Liga Independente das Escolas de Samba (Liga-SP) e a Nenê de Vila Matilde publicaram uma nota de pesar em suas redes sociais: “Gratidão pela honra de abrilhantar o nosso carnaval com a sua luz e o seu jeito moleque, que Deus fez questão de tornar eterno! Você será aquele menino de tantos tios e tias eternamente! A águia guerreira hoje chora, pois perdeu um filho que caiu do seu ninho! Mas sempre estará em nosso coração azul e branco que pulsa no ritmo da sua malandragem”.
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