Fábio da Silva, pai do garoto, conta um pouco da luta para a responsabilização da morte do filho de um 1 ano e 7 meses no Complexo do Alemão, tragicamente morto eeste ano. Mãe segue sem conseguir superar a dor
Texto / Thalyta Martins
Imagem / Arquivo pessoal / Facebook
Na noite do dia 16 de março de 2018, o menino Benjamin Novaes da Silva, de 1 ano e 7 meses, morreu vítima de bala perdida durante confronto entre policiais e integrantes do tráfico, no Complexo do Alemão.
Benjamin foi atingido na cabeça dentro do carrinho onde estava quando a mãe o levava para a casa da avó, que mora na Favela Nova Brasília. Nesse mesmo dia, outras três pessoas morreram e mais sete ficaram feridas. A mãe do menino também foi alvejada.
Três meses depois da tragédia, o Alma Preta conversou com o pai do Benjamin, Fábio Antônio da Silva, gesseiro, sobre as investigações e descaso do poder público com a família.
Superação
De acordo com Silva, a mãe do Benjamin, Paloma (30), não se encontra bem nesse momento e não conseguiu se recuperar desse processo. “Nem sempre ela vai no psicólogo. É um momento muito difícil.”
Sobre si próprio, Fábio disse que está sendo difícil para ele também. “Parece que você que é um marginal e que foi você quem assassinou seu filho. Eu já tive perdas – pai, irmão, tio e demais parentes. Mas, desta vez, foi meu filho. Eu perdi meu filho. É uma dor, pode-se dizer, diferente, pois a perda do meu filho fica no meu psicológico todos os dias. Acordo, durmo, tudo o que eu faço eu penso nele e no sorriso dele. É supercomplicado lidar com uma situação dessas. Conviver com isso dói, ainda mais saber que nada se faz para tentar pelo menos resolver”, afirmou, à reportagem do Alma Preta.
O que está sendo feito?
Fábio contou que foi à Defensoria Pública, à Vara de Execuções Penais (VEP) e em algumas palestras que fizeram quando Benjamin morreu. No entanto, ele aponta a burocracia como um impedimento para o processo andar. “Por outro lado, os órgãos não fazem esforço para que isso aconteça, entendeu? O tempo passou, está passando e nada se fala. Quanto mais oculto, melhor. Não há interesse de ser desvendado o que realmente aconteceu com o Benjamin naquele dia 16”, disse.
Ele disse que o fato de ver que ninguém foi responsabilizado torna o processo de superação mais doloroso. Ele afirmou ainda que o tempo está passando e a impressão que ele tem é que a morte do seu filho ficará no esquecimento.
“Um bebê de 1 ano e 7 meses perde a vida e fica por isso mesmo. É frustrante. É complicado ver tanta coisa acontecer e nada se resolver. Então está muito difícil hoje lidar com essa situação.”
Entramos em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro para obter mais informações sobre o ocorrido e ações posteriores ao dia 16 – fomos posteriormente encaminhados para a Polícia Civil. A instituição disse que o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital.
“No momento, não há informações a serem divulgadas sobre a investigação”, afirmou a Polícia Civil.
O Tribunal de Justiça do Rio disse que lhe cabe o julgamento das ações propostas, após oferecimento de denúncia pelo Ministério Público. “Não localizamos nenhum processo pelo nome da vítima”, afirmou o órgão em nota.
Fábio da Silva desabafa: “Eu tenho que me mexer, mas como o farei se eu não sei me mexer? Tenho que aprender: aprender a lidar com essa situação e buscar caminhos para isso”, finaliza o pai.