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Mulher trans denuncia ataques transfóbicos e de intolerância religiosa por parte de pastor

A pernambucana Raphaella Ribeiro já teve até sua imagem exposta em lives do religioso, que associa sua identidade de gênero ao satanismo

Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagem: Reprodução/EBC

Mulher trans denuncia ataques transfóbicos e de intolerância religiosa por parte de pastor

26 de julho de 2021

O medo de andar na rua e ser julgada se tornou algo constante na vida de Raphaella Ribeiro, de 29 anos, primeira mulher trans a ter o nome social inserido no título de eleitor em Pernanmbuco. Natural de Igarassu, na Região Metropolitana da capital Recife, a funcionária pública, desde fevereiro, sofre ataques do pastor identificado como Ajalonberto nas redes sociais. Incitando o ódio contra a população LGBTQIA+ e aos povos de terreiro, o religioso usa da imagem de Raphaella para destilar seus preconceitos. 

Funcionária pública do município, Raphaella há anos realiza trabalho de inclusão e unidade dos direitos das manifestações religiosas na cidade. Coordenando a pasta de cultura da atual gestão municipal, atua no resgate e inserção da população de terreiro, dos povos tradicionais e indígenas. Entretanto, a prática da laicidade dentro da região, algo que é garantido por lei, incomodou um líder religioso. 

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Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, Raphaella afirma que o trabalho de desenvolvimento junto às instituições religiosas vem sendo relacionado ao satanismo e à feitiçaria pelo pastor. “Ele tenta adquirir algumas informações nas minhas redes sociais e de pessoas próximas, coleta e abre transmissão ao vivo usando das nossas imagens para proferir calúnias a nosso respeito, com foco na intolerância religiosa e na LGBTfobia”, conta a vítima. 

De acordo com Raphaella, o pastor visa atingir diferentes frentes de ativismo, no intuito de deslegitimar quem ela é e o que faz junto à sociedade. “Ele retira todo o meu direito conquistado junto à justiça e declara que meu nome faz parte de uma auto intitulação, pontuando que não sou uma mulher. Além do meu trabalho, o lado profissional, ele busca atingir o pessoal com as práticas de preconceito, entre elas o racismo, a transfobia e a intolerância religiosa. Ninguém interfere nas suas pregações. O que parece é que ele quer voltar aos tempos das inquisições, quando jogavam pessoas como nós em praças públicas para serem queimadas”, dispara Raphaella.

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A promoção dos conteúdos caluniosos é só mais um exemplo das violências sofridas por essa parcela da população. O transfeminicídio no estado, que vem aumentando nos últimos dois meses reitera a hostilidade com as mulheres trans e travestis. Raphaella teme que, para além das vulnerabilidades sociais expostas da comunidade a qual pertence, o líder possa promover ataques que saiam das redes sociais para os físicos. Para ela, atitudes como esta partem da falta de discernimento que pessoas trans e travestis podem e devem estar em espaços de poder e que possam gerir os interesses coletivos, independente de quais sejam os grupos sociais.

A tensão sobre as declarações do líder religioso rendeu denúncias junto à delegacia em Igarassu. Boletins de ocorrência foram abertos e o caso segue em investigação pela polícia civil do município. Organizações como a Nova Associação de Travestis e Transexuais de Pernambuco (NATRAPE), Associação Nacional de Travestis e transexuais e a Secretaria De Justiça e Direitos Humanos, por articulação da própria Raphaela, estão cientes e acompanham os episódios de preconceito. 

Enquanto o líder religioso não pratica o que defende religiosamente – o ato de amar o próximo como a si mesmo – Raphaella pede por justiça e que medidas efetivas sejam tomadas para ter a rotina que tinha no passado. “Espero que a justiça seja feita, pois a minha vida não é mais a mesma desde o começo dessa perseguição. Desenvolvi medo ao fazer algo que adoro, que é simplesmente caminhar pela minha cidade. O meu psicológico, hoje, não é mais o mesmo e meu direito de ir e vir está sendo negado. Quero ser livre e ter os meus direitos. É difícil viver em uma sociedade que contribuo politicamente, mas tenho meus direitos violados por terceiros”, finaliza. 

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