Em 2023, cerca de 3.946 mulheres foram assassinadas por armas de fogo no Brasil. Segundo o último relatório do Instituto Sou da Paz, divulgado neste sábado (8), as mulheres negras foram as vítimas em 72% dos casos, índice duas vezes superior ao das mulheres brancas.
A quarta edição da pesquisa “Pela Vida das Mulheres: o papel da arma de fogo na violência baseada em gênero” explora a insegurança das mulheres brasileiras no contexto da violência armada, destacando a necessidade de políticas públicas de controle armamentista orientadas às questões de gênero.
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O relatório revela que os homicídios de mulheres por armas de fogo começam a ocorrer a partir dos 15 anos. Até os 19 anos, o grupo corresponde a 11% das vítimas de assassinatos. No entanto, é entre as mulheres de até 39 anos que se concentra a maior proporção dos casos, com 59% do total.
Entre as adolescentes, a porcentagem de vitimização também é maior para as garotas negras, que representam 80% das ocorrências.
Em 76% dos casos, os assassinatos foram cometidos por homens e em 46% os crimes foram cometidos por pessoas que têm proximidade com a vítima. Neste número, parceiros íntimos, companheiros ou ex-companheiros, somaram 29% das agressões não fatais com emprego de arma de fogo em 2023.
“É urgente falar do impacto da violência armada na vida das mulheres e da necessidade de investir em políticas de controle de armas orientadas às questões de gênero. São medidas que podem contribuir para a prevenção dos feminicídios e para o enfrentamento de um problema social que exige intervenção pela União, estados e municípios e em diferentes áreas, como saúde,
segurança pública e assistência social”, explica Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
Mulheres não estão seguras em nenhuma região do país
O Norte e o Nordeste aparecem como regiões que possuem as maiores taxas de homicídios femininos por armas de fogo em números gerais. Apesar do Sudeste apresentar os percentuais mais baixos, a pesquisa reforça a pior qualidade dos dados na região, que apresenta a mais alta taxa de mortes violentas por causas indeterminadas.
De acordo com o Sou da Paz, mesmo nas regiões onde as taxas de homicídio são menores, ainda há o risco de sofrer agressão por arma de fogo dentro de casa.
Em 2023, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Sistema Único de Saúde (SUS) registrou mais de 4 mil notificações de violência não letal armada. O índice representa um aumento de 23% em comparação com 2022 (3.580 ocorrências), e de 35% em relação a 2021 (3.253).
Entre as vítimas não-letais, o perfil majoritário é semelhante ao das vítimas de homicídio. Cerca de 64% das mulheres que sofrem esse tipo de violência entre 20 e 39 anos são negras.
“O aumento das notificações no Sinan possivelmente indica uma aproximação gradual dos registros em relação a uma realidade mais grave da violência armada não letal contra mulheres no país. São casos que chegam para atendimento no sistema de saúde em um macro contexto de aumento da circulação de armas na sociedade brasileira”, completa a diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.