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“Mulheres são as mais prejudicadas pelas mudanças climáticas”, diz ativista na COP25

Monica Rodrigues, coordenadora geral do movimento Ecofeminista em Madagascar e Cabo Verde, concedeu entrevista exclusiva ao Alma Preta durante sua participação na conferência da ONU

10 de dezembro de 2019

Texto: Nataly Simões, de São Paulo (SP) e Pedro Borges, de Madri (Espanha) | Edição: Simone Freire

As mudanças no clima representam mais riscos para as mulheres, especialmente as negras, indígenas e moradoras de áreas rurais, constata Monica Rodrigues, coordenadora geral do movimento Ecofeminismo em Madagascar e Cabo Verde na Cúpula do Clima (COP25). O encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) começou no dia 2 e acontece até 13 de dezembro, em Madri, na Espanha.

“Apesar de os homens também serem afetados pelas mudanças climáticas, as mulheres são as mais prejudicadas pois têm mais contato com os recursos naturais. São as mulheres que percorrem grandes distâncias para procurar água, por exemplo. Então, quando os recursos ficam escassos, elas são as primeiras a sofrerem”. explica.

De acordo com o ministro da Agricultura e Ambiente do país africano, Gilberto Silva, Cabo Verde vive uma das piores secas dos últimos 40 anos. “Só é comparável às secas de 1947 e 1977, em que a situação foi muito complicada”, disse o ministro, em entrevista à Rádio de Cabo Verde.

Rodrigues destaca que a seca agrava ainda mais a situação das mulheres que vivem em Santiago, ilha de Cabo Verde.

“Com a falta de chuva em Santiago, a produção agrícola cai muito e, por questões culturais de quem vive no campo, os homens deixam a ilha em busca de melhores condições. Na luta pela sobrevivência, as mulheres acabam ficando sozinhas com os filhos”, conta.

Violência e mudanças climáticas

Na Cúpula do Clima (COP25), Monica Rodrigues sustentou que o debate sobre as mudanças climáticas não pode ser dissociado das questões de gênero. “Existem estudos que ligam a crise climática à violência de gênero. A exemplo da imigração forçada que leva mulheres e crianças a se prostituírem, são questões complexas e que não podem ser dissociadas”, analisa.

No Brasil, a violência decorrente de mudanças climáticas se reflete em situações como a construção de usinas hidrelétricas. Desde o início da construção da Usina de Belo Monte, nos anos 2000, a cidade de Altamira, no Pará, registrou uma explosão nos índices de violência.

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), em entrevista ao UOL, ligam o aumento no número de homicídios, violência sexual e contra a mulher às alterações na estrutura social, econômica e ambiental decorrentes da chegada de empreiteiras e a migração de grande número de pessoas.

Em 2000, Altamira registrou oito homicídios, uma média de 9,1 mortes por 100 mil habitantes, de acordo com dados do Datasus. Em 2009, ano em que a Eletrobras já solicitava a licença da usina de Belo Monte, a taxa era de 50,6 mortes por 100 mil pessoas.

Seis anos depois, o município passou a fazer parte da lista das dez cidades com maiores taxas de homicídio do país, com uma média de 124 mortes por 100 mil habitantes. A média nacional no mesmo ano não era um quarto da de Altamira, com 29 por 100 mil.

Ecofeminismo

O movimento ecofeminismo, que une ecologia ao feminismo, atua sob a ideia de que as mulheres e a natureza são objetos explorados pelos homens. O movimento nasceu após uma série de conferências realizadas por mulheres acadêmicas nos Estados Unidos no final da década de 1970.

Monica Rodrigues é uma das difusoras do movimento existente em Madagascar e em Cabo Verde desde 2017 e 2018, respectivamente. Um dos principais objetivos é mobilizar os governos e a sociedade civil em defesa da justiça social e climática com base em estratégias de desenvolvimento sustentável.

“Hoje nós desenvolvemos projetos de educação ambiental, de alfabetização e de empreendedorismo para as mulheres a fim de que elas possam gerar a própria renda, mas é importante que o Estado tenha políticas estratégicas para guiar a sociedade civil e a comunidade científica”, concluiu.

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