Olimpíadas 2024

Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Na agenda da prefeitura, bloco ‘nega maluca’ desfila com estereótipos racistas em Angra dos Reis

Prática que inclui blackface é caracterizada pelo tom depreciativo à mulher negra através do uso de enchimento nos seios, na bunda e o tom avermelhado nos lábios

28 de fevereiro de 2020

O mês do carnaval está chegando ao fim e a temporada de festas de 2020 foi marcada por fantasias e blocos de rua que reproduzem estereótipos racistas. Em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, um dos blocos que integrou a agenda oficial da prefeitura foi o “Nega Maluca”.

Por meio da Fundação de Turismo de Angra dos Reis, a gestão da cidade garantiu apoio financeiro para 56 dos 72 blocos que se apresentaram,. Cada bloco recebeu um auxílio de R$ 1,5 mil a R$ 8 mil para realizar seu desfile. O bloco “Nega Maluca” saiu às ruas do centro da cidade em 20 de fevereiro.

Nas redes sociais, uma moradora criticou a apresentação do bloco e lembrou que é comum na cidade. “Na minha infância, vi várias pessoas brancas se fantasiarem de pretas na cidade e aquilo me incomodava. Um tempo atrás minha filha chamou atenção de uma pessoa da nossa família que tinha o costume de se fantasiar de nega maluca. Na discussão, a pessoa se defendeu ao afirmar que o bloco era uma tradição em Angra. Caras pessoas brancas, não há tradição que deva se perpetuar onde existe dor”, escreveu.

Por quê é racismo?

A “nega maluca” é uma prática de blackface que consiste em pintar a pele de preto e reproduzir estereótipos ligados aos negros. Com a personagem, esses estereótipos aparecem em tom depreciativo à mulher negra através do uso de enchimento nos seios, na bunda e o tom avermelhado nos lábios.

A prática do blackface surgiu em Nova York, nos Estados Unido, em 1830, como uma forma de ridicularizar a população negra. A atitude ganhou força no teatro, quando os brancos se apresentavam em espetáculos depreciativos sobre comportamentos associados aos negros.

O Alma Preta procurou a Prefeitura de Angra dos Reis e questionou se o bloco “Nega Maluca” foi um dos 56 beneficiados financeiramente. A reportagem também questionou se o fato de a “nega maluca” ser uma personagem racista foi levado em consideração pela curadoria.

Em nota, a gestão da cidade informou que o bloco “Nega Maluca” recebeu um apoio de R$ 6 mil para realizar seu desfile. A prefeitura também afirmou que o “bloco é um dos mais tradicionais de Angra dos Reis, com mais de 40 anos de existência”.

Ainda segundo a assessoria de imprensa, a gestão municipal “não interfere nos nomes e temas escolhidos pelas agremiações, o que garante o direito à liberdade de expressão”.

  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Passagens por UOL, Estadão, Automotive Business, Educação e Território, entre outras mídias.

Leia Mais

Quer receber nossa newsletter?

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano