A Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, movimentou um recorde de R$ 4 milhões na edição de 2019.
“É um negócio de impacto social. É sobre falar de riqueza, abundância e fartura sem ser para o lucro de uma única pessoa, mas para descentralizar o dinheiro de modo que todo mundo ganhe e a fartura seja para todos”, explica Adriana Barbosa, criadora do evento e vencedora do Prêmio Empreendedor Social e do Prêmio Claudia, ambos conquistados neste ano.
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O evento aconteceu em São Paulo (SP) no decorrer de novembro com atividades em diferentes pontos da cidade e encerramento nos dias 7 e 8 de dezembro no Memorial da América Latina, na Barra Funda. Ao todo, foram 700 empreendedores expondo e vendendo produtos, 600 apresentações artísticas e 120 mil visitantes.
Quem vê os números expressivos da Feira Preta não imagina, no entanto, as dificuldades de inserir um evento produzido e voltado para pessoas negras na agenda da maior cidade do país. Adriana Barbosa ainda enfrenta os mesmos problemas de quando criou a feira, em 2002: o racismo.
“A gente tenta fazer o melhor, mas nem tudo depende de nós porque o Brasil ainda é um país racista. A questão do racismo perpassa por quem financia ou não o evento e pela busca do espaço para os dois dias de encerramento. Apesar de começarmos a buscar incentivo praticamente um ano antes da realização, nós só conseguimos um espaço [o Memorial da América Latina] poucos meses antes do evento e após uma série de reuniões”, relata.
“Passado, Presente e Futuro”
O planejamento da Feira Preta é semelhante ao das escolas de samba no Carnaval. O “samba-enredo” da feira é o “conceito do tema”, que começa a ser pensado com muitos meses de antecedência. Em 2019, o evento completou 18 anos e o tema escolhido em referência ao aniversário foi “Passado, Presente e Futuro”.
Adriana conta que a ideia surgiu com a primeira edição do Festival Pretas Potências, que aconteceu no dia 13 de maio de 2018. A data marcada oficialmente pelo dia da abolição da escravatura no Brasil tem sido ressignificada pelo movimento negro como o dia da abolição inconclusa. O festival ganhou programação focada na inovação, criatividade e resistência negra.
Na época, a empreendedora social reuniu 18 jovens de 18 anos para pensar no passado, presente e futuro. Eles tinham de contar quais são as histórias do passado que os levaram a serem no presente jovens autodeclarados negros e quais são as estratégias para o futuro.
“São 18 anos da feira pensando no passado para ser o que é hoje. O presente foi pensado no público jovem e o futuro nas estratégias”, justifica.
Para Adriana Barbosa, o mais importante da Feira Preta é o potencial do encontro entre a própria comunidade negra.
“Quando a gente coloca toda a potência criativa do povo negro em um único espaço e temos um panorama disso eu volto para casa mais forte e mais esperançosa. Apesar do contexto político e econômico, nós estamos gerando renda e mostrando que São Paulo é também uma cidade preta”, completa.