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Negros representam mais de 70% das vítimas de tráfico de pessoas no Brasil

Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças: informações do relatório nacional mostram que o tráfico de pessoas para a finalidade de trabalho análogo à escravidão é maior entre mulheres negras e com pouca instrução; veja como denunciar

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/Ciso Advisor

Imagem representa uma vítima de tráfico de pessoas amarrada

Imagem representa uma vítima de tráfico de pessoas amarrada

23 de setembro de 2021

Neste 23 de setembro, data marcada pelo Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, um dado chama a atenção: 72% das vítimas de tráfico de pessoas são negras. É o que diz o Relatório Nacional, elaborado pelo Governo Federal em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). As informações consideram o período de 2017 a 2020 e é o primeiro documento com recorte de raça/cor.

Em relação à composição racial das vítimas, dados dos Núcleos e Postos e do Ministério da Saúde demonstram a vulnerabilidade da população negra para o tráfico de pessoas. Das vítimas atendidas pelos Núcleos e Postos, 63% eram negras (pretas e pardas), enquanto 22% eram brancas.

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Das possíveis vítimas atendidas pelo sistema de saúde, 58,5% eram negras e 31,7% eram brancas. O levantamento ainda aponta que o tráfico de pessoas para a finalidade de trabalho análogo à escravidão também é maior entre mulheres negras e com pouca instrução: das trabalhadoras resgatadas, pretas e pardas somam 53%, 62% não concluíram o ensino fundamental e 71,3% foram resgatadas no trabalho rural.

Mulheres e meninas são as principais vítimas

O relatório mostra também que 86 denúncias de tráfico de pessoas envolvendo meninas de até 18 anos foram feitas entre 2017 e 2020 no Brasil. Segundo informações da análise, o dado chama atenção por ser acima da média global apresentada pelo relatório do UNODC.

Enquanto a média nacional foi de 40%, os dados mundiais registram 34% de vítimas menores de 18 anos no mesmo período. Já a Organização das Nações Unidas (ONU) diz que quase um terço das vítimas desse tipo de crime são crianças, e 71% das pessoas traficadas são meninas e mulheres.

As mulheres também somaram maioria como possíveis vítimas atendidas no sistema de saúde, ou seja, nos hospitais e postos. Segundo o Ministério da Saúde, foram 456 pessoas identificadas pelo sexo feminino ante 154 homens. Os números de 2020 ainda não estão completos, e os dados foram contabilizados até setembro do ano passado.

Formas de exploração e números

Considerada a terceira maior atividade ilícita do mundo, perdendo apenas para tráfico de drogas e o de armas, é considerado tráfico de pessoas, segundo a ONU, quando a vítima é agenciada, aliciada, recrutada, transportada, transferida, comprada, alojada ou acolhida mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.

O relatório explica que a partir da Lei nº 13.344/2016, estabeleceram-se juridicamente cinco formas de exploração referentes ao tráfico de pessoas: remoção de órgãos, tecidos ou partes do corpo; trabalho em condições análogas à escravidão; qualquer tipo de servidão; adoção ilegal; e exploração sexual. No Brasil, as principais formas de exploração relativas ao tráfico de pessoas encontradas são o trabalho em condições análogas à escravidão e a exploração sexual.

Segundo a análise, de 2017 a 2020, foram catalogadas 1.811 vítimas com idade entre 18 e 59 anos pelos centros de referência especializados de assistência social (Creas). No sistema de saúde, foram contabilizadas 615 vítimas potenciais. O Disque 180 contabilizou 388 denúncias no período, 237 das quais relacionadas à exploração sexual, 121 ao trabalho análogo à escravidão, 17 para fins de adoção e 13 para remoção de órgãos.

O Ministério Público do Trabalho (MPT), por sua vez, contabilizou 15.857 aliciamentos entre 2017 e 2020, a maioria (14,80%) no estado de São Paulo, seguido por Minas Gerais (14,52%).

Como identificar e denunciar casos

A cartilha “Em quem você confia?”, elaborada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), ilustra situações e alerta para indícios de aliciamento. Além disso, o documento “Critérios e Fatores de Identificação de Supostas Vítimas do Tráfico de Pessoas”, do UNODC, aponta ainda que as vítimas podem ser submetidas por outras formas de coação: é o caso de ameaças, contra si ou contra familiares, a retenção de documentos, abuso de autoridade ou situação de vulnerabilidade.

Para denunciar os casos de tráfico de pessoas, exploração sexual ou trabalho escravo, é possível entrar em contato com o Disque 100 e com o Ligue 180, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Os serviços funcionam 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. Nesses canais, a denúncia é feita gratuitamente de forma anônima e segura. Qualquer pessoa pode e deve realizar a denúncia, tanto a vítima, quanto alguém que suspeita da situação.

Leia também: ‘Negros representam 77% das vítimas de homicídio, diz Atlas da Violência’

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