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Negros são sete em cada dez pessoas mortas pelas polícias de São Paulo e do Rio de Janeiro

9 de dezembro de 2020

Forças policiais mataram 2.629 pessoas nos dois estados em 2019 e 1.918 eram negras; em 7% do total de casos, não foi registrada a cor da vítima

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Fotos Públicas

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O levantamento “A cor da violência policial: a bala não erra o alvo” mostra que nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro a polícia assassinou 1.918 pessoas negras em 2019, o que representa 72,9% do total de 2.629 pessoas mortas pelas forças policiais no ano passado. O número pode ser ainda maior, pois em 186 ocorrências deste tipo não se sabe exatamente qual a cor da vítima.

Os dados do racismo na dinâmica da violência policial nos dois estados mais ricos da região Sudeste são do relatório da Rede de Observatório da Segurança.

No estado de São Paulo, 34,8% da população é negra, porém, os negros são 62,8% dos mortos pela polícia, segundo o relatório. Em 2019, a polícia matou 815 pessoas em todo o estado, sendo 495 negras, 290 brancas e em 27 casos não há registro sobre a cor ou raça da vítima.

No Rio de Janeiro, a polícia mata ainda mais. Foram 1.814 assassinatos cometidos por agentes das forças de segurança pública em 2019. Por lá, 51,7% da população é negra e corresponde a 86% das vítimas fatais da polícia. Foram 1.423 pessoas negras mortas contra 231 brancas. Em 159 casos de pessoas mortas pela polícia, a cor da vítima não foi registrada nos dados oficiais.

riospcordaviolenciaDe acordo com a pesquisadora Francine Ribeiro, do núcleo paulista do Observatório, ao observar a realidade de São Paulo nota-se que a abordagem policial tende a ser mais violenta quando o individuo é negro, inclusive, a chance de ocorrer uma execução durante o patrulhamento ou operação é maior quando o suspeito é negro.

”Essa diferenciação de tratamento entre brancos e negros analisada através das estatísticas, e também do acompanhamento diário dos casos, mostra um evidente descontrole das polícias e a discriminação presente na sociedade.”, diz a pesquisadora.

No caso do Rio de Janeiro, o pesquisador Pedro Paulo da Silva, do núcleo fluminense do Observatório, recorda que no ano passado, o primeiro do mandato de Wilson Witzel como governador, o estado bateu recorde de assassinatos.

“Foi o primeiro ano de mandato do governador Witzel que foi eleito com um discurso de política de segurança pública belicoso. O número de mortes por intervenção da polícia bateu um recorde histórico. Nos EUA, por exemplo, teve 1.194 pessoas mortas pela polícia. O Rio matou mais pessoas do que todos os EUA no mesmo ano”, reitera o pesquisador.

Em 2020, em razão da pandemia da Covid-19, uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu as operações policiais no Rio de Janeiro.

“Na pandemia teve operação que resultou na morte de 13 pessoas. Depois da decisão do STF caiu bruscamente o número de operações. Entre junho e setembro as mortes e os índices de criminalidade não aumentaram”, lembra Silva.

Além de São Paulo e Rio de Janeiro, o relatório tem dados dos estados de Ceará, Pernambuco e Bahia. Nos cinco estados, foram mortas 3.489 pessoas pela polícia, sendo 2.487 delas negras.

“O racismo estrutural se manifesta em cada Estado de maneira específica no que diz respeito a Segurança Pública e ao Sistema de Justiça. Apesar da tentativa da mídia em ocultar a cor das pessoas nas notícias, o abuso da força policial é direcionado e tem um alvo – na maioria dos casos – vitimiza corpos negros”, salienta a pesquisadora Francine.

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