PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Pesquisar
Close this search box.

Negros vivem menos e pior no Brasil: relatório do Afro-Cebrap expõe desigualdade racial

Relatório “Envelhecimento e Desigualdades Raciais” lançado pelo Afro-Cebrap em parceria com Itaú Viver apresenta dados coletados em três capitais do país
Imagem mostra as mãos de um idoso negro.

Foto: Getty Images

2 de novembro de 2023

O envelhecimento da população brasileira tem sido acompanhado por um aumento das desigualdades raciais, conforme revela o relatório: “Envelhecimento e Desigualdades Raciais”, lançado recentemente pelo Afro, núcleo de pesquisa, formação e difusão sobre a temática do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) em parceria com o Itaú Viver Mais, que discute e apresenta dados coletados em três capitais: Porto Alegre (RS), São Paulo (SP) e Salvador (BA). 

A pesquisa foi realizada com indivíduos de 50 anos ou mais em 2021, utilizando o Survey, que é um método quantitativo de coleta de informações diretamente de pessoas por meio de questionário. As capitais foram escolhidas por possuírem altos índices de envelhecimento populacional, além de privilegiar as três maiores regiões do país em população: Sul, Sudeste e Nordeste.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

O coordenador institucional do Afro-Cebrap, Huri Paz, de 26 anos, explica que as desigualdades raciais são um problema histórico no Brasil e que se agravam com as mudanças demográficas.

“Nos próximos anos, o número de pessoas com 60+ será maior que o de jovens, o que provoca uma grande mudança na estrutura de desigualdades do país. Quais políticas públicas podem ser desenvolvidas para garantir que a população negra envelheça com saúde e o que as empresas podem fazer para empregar uma população cada vez mais idosa?”, questiona. 

Os dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de outubro de 2023, corroboram a fala de Huri. Eles mostram que a idade média do brasileiro passou de 29 anos em 2010 para 35 em 2022. Além disso, no ano passado, o país registrou maior salto de envelhecimento entre dois censos de 1940, que passou a ter 55 idosos para cada 100 jovens. 

Ainda sobre o assunto, o coordenador destaca que a importância do relatório “centra-se em entender como a população preta e parda está envelhecendo quando comparada com a branca, pois isso pode subsidiar a construção de políticas públicas que enfrentem as desigualdades nesse momento de vida das pessoas”.

Taxa de mortalidade entre homens negros é duas vezes maior 

Para garantir a representatividade dos resultados da pesquisa, foram realizadas 500 entrevistas domiciliares e presenciais em cada capital. A amostra foi selecionada em dois estágios: no primeiro, foram sorteados os setores censitários para garantir a dispersão geográfica na cidade; no segundo, os entrevistados foram selecionados a partir de cotas por faixa etária e gênero (homens, mulheres; 50 a 59 anos; 60 a 69; 70 a 79; 80 anos ou mais), para garantir que os resultados representassem a população de cada capital.

O relatório aponta que, a partir dos 15 anos de idade, os homens negros têm uma taxa de mortalidade duas vezes maior do que os demais grupos. Em São Paulo, a expectativa de vida dos homens negros é menor do que a dos homens brancos.

Ainda de acordo com os dados, em 2022, 71% das mortes entre homens negros ocorreram até os 69 anos, enquanto entre os homens brancos esse percentual foi de 48%. Isso significa que os homens negros têm mais chances de morrer precocemente, o que pode ter um impacto significativo em seu envelhecimento.

O levantamento também aponta que os homens negros estão mais expostos a riscos diversos, como violência, ambientes de trabalho precários e doenças crônicas. Por exemplo, os homens negros são três vezes mais propensos a serem vítimas de homicídio do que os homens brancos. 

Eles também têm mais chances de trabalhar em empregos perigosos e insalubres, o que pode aumentar o risco de doenças ocupacionais. Além disso, os homens negros são mais propensos a desenvolver doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes e doenças cardíacas.

São abordados indicados no relatório, a exemplo de autoestima, bem-estar, saúde, prevenção e acesso aos cuidados de saúde, atividade física, mobilidade, inclusão digital, inclusão produtiva, segurança financeira, práticas culturais, capital social e exposição à violência

A partir deles, segundo o coordenador institucional do Afro-Cebrap, foi possível notar uma série de desigualdades desde o nascimento até o envelhecimento da população negra. “Os homens pretos e pardos, no Brasil, têm uma taxa de mortalidade até os 60 anos, enquanto a população branca começa a morrer a partir dos 75”. 

Paz afirma que o relatório traz pistas de como a população negra no país tem menos acesso aos serviços de saúde e são os mais expostos à violência. “A população negra tem mais dificuldades em fechar as contas no final do mês, como eles [os negros] têm maiores dificuldades em fazer tratamentos básicos no SUS [Sistema Único de Saúde] como tratamento de diabetes e hipertensão e como o nível de escolaridade é bem menor quando comparado às pessoas brancas”. 

Estratégias para o envelhecimento pautado pela equidade racial 

A partir dos dados revelados pelo relatório foi possível pensar em estratégias para o envelhecimento pautado pela equidade racial. Segundo Huri, uma delas são as estratégias para promover um envelhecimento caracterizado pela equidade racial, que trata-se de estimular campanhas de sensibilização voltada a homens com foco no acolhimento inclusivo e na promoção do autocuidado.

“As ações devem reiterar que o cuidado com a saúde é um tema masculino e deve ser valorizado na esfera pública.  Além deste aspecto, defende-se a disseminação do campo da ‘gerontologia aplicada’ e o fortalecimento dos cursos profissionais de ‘terapia ocupacional’ recentemente criados nas Universidades Públicas”, acrescenta. 

O coordenador ainda pontua que a população negra e idosa enfrenta desafios específicos no mercado de trabalho, como discriminação, falta de acesso à educação e qualificação profissional, e desproteção social. 

Para ele, no âmbito governamental, o poder público pode organizar feiras internacionais de promoção da população negra e idosa, como a “Longevidade Expo+Fórum”. Já as empresas podem atuar na seleção de profissionais a partir de critérios de diversidade, como MaturiJobs, EmpregueAfro, HerForce, Vagas PCD e Contrate uma Mãe. Essas plataformas também atuam em consultorias para corporações que necessitam diversificar a equipe de recursos humanos.

Em relação às políticas de assistência social, as unidades do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) realizam o atendimento de um quantitativo considerável de pessoas idosas e racializadas. 

Ele ainda destaca que as ações no campo das políticas públicas devem ser pautadas de modo transversal e interseccional, com ações de busca ativa para inserção em programas sociais e debates sobre igualdade racial e envelhecimento.

  • Formado em Jornalismo e licenciado em Letras-Português, morador da periferia de Maceió (AL) e pós-graduado em jornalismo investigativo pelo IDP. Com experiência em revisão, edição, reportagem, primeira infância e jornalismo independente. Tem trabalhos publicados no UOL (TAB, VivaBem, ECOA e UOL Notícias), Agência Pública, Ponte Jornalismo, Estadão e Yahoo.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano