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O adeus a MC Kawex: ‘Um homem negro de voz potente e mente aguçada’

Participante ativo de projetos sociais na região da Cracolândia, Antônio Carlos do Nascimento, o Kawex, rimava com precisão e rapidez a realidade sórdida de São Paulo

Texto: Juca Guimarães | Edição: Nataly Simões I Imagem: Pedro Santi

rapper kawex

16 de fevereiro de 2021

Antônio Carlos do Nascimento, um homem negro de voz potente e mente aguçada, morreu tranquilamente, em casa, durante o sono, no dia 13 de feveiro, de acordo com familiares. Foi uma passagem diferente da vida agitada que levou. “Vou rimar o mundo que ninguém quer ver” e “São Paulo à noite, o mundo se divide em dois” são frases marcantes dos raps compostos por MC Kawex, como ficou conhecido, e que retratam o cotidiano da cidade.

Em 2014, Kawex foi preso por desacato ao impedir que, sem mandato, policiais e agentes do Estado entrassem em um prédio na região da Luz. Em 2018, foi preso novamente no caminho de uma apresentação teatral, na Lapa, por conta de uma multa que não havia pago na primeira condenação.

No fluxo, como é chamada a movimentação de usuários, traficantes e pessoas em situação de rua na Cracolândia, Kawex participava ativamente de diversas iniciativas e colaborou com diversos coletivos como: Craco Resiste, Birico Arte, Teto Trampo e Tratamento e o teatro do Contêiner, da cia Mungunzá. Esse grupo de artistas e ativistas é responsável, diariamente, por manter firme a luta contra as injustiças na região e a criminalização de pessoas negras e pobres.

“Era o rap com raiz na rua que conta as histórias de uma cidade partida e um mundo dividido. Foi a cabeça erguida fazendo frente à guarda, à polícia e a todas as auto proclamadas autoridades, togadas ou de gravata”, diz a nota de pesar da Craco Resiste.

O poeta e amigo Fabio Rodrigues fez uma emocionada homenagem em forma de versos para Kawex. “Cheio de positividade. Relatou a mais dura realidade. Com uma rima afiada. A voz potente. Criatura rara”. Na quinta-feira (18) haverá uma homenagem para o rapper a partir das 11h, em praça pública. A rádio organizada pelos coletivos será renomeada para Rádio Kawex. No teatro do Contêiner serão colados lambe-lambes com o rosto do rapper.

Kawex foi ator em uma peça que falava sobre políticas de redução de danos para usuários de substâncias ilícitas. O espetáculo “Cabaré dos Afetos” entrou em cartaz em setembro de 2018. Em 2019, participou do documentário “Corpo de Rua – No sentimento do Fluxo”, dirigido por Pedro Santi. O rapper viveu por mais de 22 anos na região da Cracolândia e em 2018 gravou o seu primeiro álbum. Kawex era paulistano, do Bixiga, e desde a infância foi um grande fã de samba.

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