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O Alma Preta é mídia radical?

21 de outubro de 2018

Em entrevista para uma pesquisadora, Pedro Borges, um dos fundadores do portal de notícias negro fala sobre a história do site, objetivos, estrutura humana, também sobre conceitos como mídia radical. Segundo ele, o veículo é núcleo de convergência da militância negra brasileira

Entrevista / Thalyta Martins
Foto / Thinkstock

O Alma Preta está sendo tema de uma monografia que será apresentada para conclusão de um curso de jornalismo no final deste ano. No meio do ano passado Pedro Borges, representando o site, concedeu entrevista por Skype à pesquisadora Thalyta Martins. Confira na íntegra.

Thalyta Martins: Você pode me contar o que é o Alma Preta?

Pedro Borges: O Alma Preta é um portal de mídia negra criado em Bauru, em 2015. Define-se como portal de mídia radical, propondo uma comunicação horizontal, ou seja, dando espaço a vários atores sociais, seguindo pensamento de Downing (2002), que teoriza sobre este assunto que vem tomando força nos últimos anos. O pesquisador acredita ser uma mídia radical aquele veículo que permite pluralidade, trazendo referências cada vez mais próximas da realidade daquele público popular.

Thalyta: Qual é a estrutura humana do portal?

Pedro: A estrutura pessoal do site é composta atualmente por oito pessoas negras com posicionamento político contrário ao status quo e à mídia hegemônica convencional. Além dos seus principais articuladores, há colaboradores por todo o país. Todos os integrantes do conselho editorial e colaboradores pertencem a grupos políticos que questionam o racismo na sociedade brasileira e, por isso, são assumidamente parciais. Algumas opiniões são diferentes, mas não consideramos isso negativo.

A criação do site se deu com os estudantes de jornalismo na época Pedro Borges, Vinícius Martins e Solon Neto, todos membros fundadores do Coletivo Negro Kimpa da Unesp de Bauru. Também nesse começo, o grupo contou com a ajuda do designer Vinicius de Araújo para desenvolver a identidade visual.

Thalyta: Como o Alma Preta foi criado?

Pedro: As conversas iniciaram-se no início de 2015 com o objetivo de criar um portal de mídia negra. A primeira apresentação oficial do portal ao público foi por meio da página do Facebook, criada em 27 de abril de 2015. Deste ponto em diante, a formatação do site, a articulação das suas mídias sociais, a identidade visual, assim como a política editorial passaram a ser debatidos.

Nesse ponto nós decidimos fazer a divisão das editorias de forma diferente da adotada pela mídia tradicional, ou seja, não se separou assuntos como cultura de política, ou economia do esporte. Para esses temas, o conselho deu o nome de “Realidade”; os textos opinativos ganham espaço na editoria “O Quilombo”, espaço para opiniões de pessoas das mais diversas áreas; outra editoria é a “Da Ponte pra Cá”, nome que referencia uma música do grupo de rap Racionais Mc’s, com o mesmo nome. Aqui há a descrição do universo periférico e das diferenças desta realidade para o mundo das elites. Nessa parte, é explorado conteúdo das periferias do Brasil, suas produções, seus problemas, entre outros, com as colaborações de outros sites com essa temática, por exemplo, o “Nós, Mulheres da Periferia”, o “Bocada Forte”, a “Ponte Jornalismo” e o “Periferia em Movimento”; a última editoria é a “Mama África”, que referencia a música de Chico César com o mesmo nome. Esta editoria tem produções jornalísticas sobre o continente africano com o objetivo de se construir orgulho das origens africanas, além de conhecimentos sobre cultura, política e economia do continente berço dos negros brasileiros.

Thalyta: Como se dá o contato com o público? E entre vocês?

Pedro: As formas de interação com o público são: o site (almapreta.com.br), onde publicamos matérias, fotos e eventualmente veiculamos propaganda; o Twitter, utilizado para a divulgação dos textos produzidos, assim como o Facebook; o Instagram, usado para divulgar fotos com as manchetes de textos publicados no site, além de replicar postagens de outras páginas com a mesma temática; e o Youtube, onde o veículo possui um canal, onde posta entrevistas e reportagens com frequência.

O conselho editorial não possui espaço físico. A redação virtual utiliza um grupo secreto no Facebook, um grupo de conversa no Whatsapp e, também, o Google Drive, onde o Alma Preta tem uma série de informações armazenadas, como descrições e textos dos colaboradores do site, banco de dados com contatos de possíveis fontes negras e uma agenda com a programação de textos a serem publicados. As reuniões acontecem semanalmente pelo aplicativo do Gmail, Hangouts.

Thalyta: Qual é o objetivo? Ele tem sido alcançado?

Pedro: Atuar na construção de referenciais positivos para o povo negro, buscando a autoafirmação dos afrodescendentes e posicionamento no campo político da questão racial no Brasil e no mundo. Outros objetivos do portal são: publicar textos opinativos e reportagens fundamentadas do ponto de vista étnico-racial; apresentar conteúdo audiovisual com destaque aos atores sociais; participar da organização de eventos e grupos políticos que debatam a questão racial, entre outros.

O Alma Preta, posso afirmar, tornou-se um núcleo de convergência da militância negra brasileira.

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