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“O Brasil precisa ser visto como o país mais racista do planeta”, diz Hélio Santos sobre agenda do movimento negro na Jamaica

6 de maio de 2019

Em entrevista ao Alma Preta, o presidente do Conselho do Fundo Baobá para a Equidade Racial e histórico ativista do movimento negro, Hélio Santos, reiterou a importância de uma pressão internacional para que o Brasil seja visto como a nação mais racista do mundo

Texto / Pedro Borges
Imagem / Reprodução

O movimento negro brasileiro participa de audiência com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) no dia 9 de Maio, em Kingston, Jamaica, sobre o pacote de segurança pública de Sérgio Moro.

A audiência “Sistema Penal e denúncias de violações dos direitos das pessoas afrodescendentes no Brasil” reúne representantes do governo brasileiro, do movimento negro e da CIDH.

O encontro é resultado de uma carta enviada em 20 de Fevereiro ao órgão internacional com a assinatura de 30 organizações da luta antirracista com a denúncia de aspectos do pacote de segurança de Sérgio Moro como a ampliação do banco de dados de DNA de presos no país e a possibilidade de inocentar policiais que assassinarem uma pessoa por “surpresa ou violenta emoção”, entre outras propostas.

Sobre a agenda internacional, o Alma Preta entrevistou Hélio Santos, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) (?) e ativista histórico do movimento negro. Para ele, mais do que estratégico, lutar contra o pacote de Sérgio Moro é uma “questão de sobrevivência” para o povo negro brasileiro.

Hélio Santos acredita que as instâncias nacionais de denúncia de violação de direitos estão esgotadas e que o movimento negro precisa agir no plano internacional.

“O Brasil precisa ser reconhecido hoje como o país mais racista do planeta. Quem reafirma isso é o genocídio negro, os números e os assassinatos reiterados”.

O ativista histórico, que participou da Conferência de Durban, em 2001, um dos marcos internacionais da luta contra o racismo no mundo, acredita que o movimento negro terá um papel importante diante da atual conjuntura.

“O movimento negro, durante a era petista, foi o responsável direto pelas políticas públicas que mais impactaram o Brasil. O que restou daquela fase é o que mantém acesa a chama de sermos um dia uma democracia. Não somos o problema. Definitivamente, somos parte importante da solução”.

Confira a entrevista na íntegra

Qual a importância da agenda do movimento em Kingston, Jamaica? O movimento negro organiza uma comitiva com 14 representantes…

O número em Kingston não diz muito. O importante é a pauta. Nesse momento do mundo, encontro internacionais com a pauta racial são importantes. O pacote de Sérgio Moro é o genocídio negro como proposta de governo. Enfrentar isto, sobretudo no plano internacional é mais que estratégico. É questão de sobrevivência.

Qual o impacto de uma posição de um órgão internacional na política brasileira?

Há tempos tenho uma certeza: no plano interno, ou seja com a elite brasileira, esgotou-se tudo que era possível. Como no apartheid da África do Sul, a pressão terá de vir de fora. Da África, da União Europeia, de países como a Jamaica. O Brasil precisa ser reconhecido hoje como o país mais racista do planeta. Quem reafirma isso é o genocidio negro, os números e os assassinatos reiterados.

Qual a importância da articulação a nível nacional e internacional do movimento negro brasileiro?

O movimento negro é o movimento social mais antigo do Brasil. Tem quatro séculos de existência. No pós abolição, não temos um momento pior na história. Nem na ditadura militar. A ditadura era anti povo, mas era um poder que não veio das urnas. Hoje temos um governo que tem como guru um inimigo nosso: Olavo de Carvalho.

Qual o peso político o movimento negro tem e terá diante da atual conjuntura?

O movimento negro, durante a era petista, foi o responsável direto pelas políticas públicas que mais impactaram o Brasil. O que restou daquela fase é o que mantém acesa a chama de sermos um dia uma democracia. Não somos o problema. Definitivamente, somos parte importante da solução. E o que restou daquela fase foram as ações afirmativas. Estas mudaram a cara do país. Mas muito que deveria ser feito não o foi. O pós Durban coincide com o governo Lula. Durban impactou o governo. Retomar Durban é estratégico. Cobrei isto numa reunião no início de Abril em Los Angeles.

O que você acha que seria importante de retomar da Conferência de Durban, que ocorreu em 2001?

Durban hoje deve ser retomado com a pauta da dívida histórica. Há uma dívida econômica e moral. Os estados, sobretudo europeus, devem pagar. Também os estados que foram colonizados como Brasil, Cuba, Venezuela, Colômbia. Os EUA também, mas são um caso à parte. São valores aplicados em políticas públicas específicas. Sem delírios, são trilhões de dólares.

O Brasil como maior país negro da diáspora deve estar à frente dessa movimentação. Somos a sede da Antena Preta Mundial. Além da dívida econômica com a Diáspora; dívida semelhante se dá com a África subsaariana. Esse arranjo precisa desembocar num grande reencontro da Diáspora com a África, uma imensa via de duas mãos: diáspora-África.

Os negros da Diáspora fortalecendo sua cidadania em sintonia com o desenvolvimento Africano. Construir um atalho em que a África avance sem perder nossos valores, uma Wakanda global.

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