O 2º Encontro de Estudantes Negras e Negros da União Estadual dos Estudantes de São Paulo teve discussão sobre política e plano de país na primeira mesa. Convidados discutiram com os presentes sobre futuro na política e possíveis ações para mais representatividade
Texto e imagem / Thalyta Martins
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Em 19 de maio, jovens negros discutiram sobre projeto de país no 2º Encontro de Estudantes Negras e Negros da UEE-SP (União Estadual dos Estudantes de São Paulo) com Pejigan Rafael Pinto, formado em Ciências Sociais na USP (Universidade de São Paulo), e com Danilo Morais, representante regional da Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras).
O Encontro foi organizado pela Diretoria de Combate ao Racismo da UEE-SP, em conjunto com o Ilê Axé de Iansã, localizado no Sítio Quilombo Anastácia, que por sua vez está dentro do Assentamento Rural Araras 3.
A política para maioria
Danilo Morais apontou um dado do Instituto Democracia segundo o qual 84% dos brasileiros dizem não gostar de política. “O que as pessoas pensam que é política?”, instigou, ao falar sobre projeto nacional e sobre as características do poder político hoje. O discurso dele abrangeu também como sobre como a esquerda falha em conjunto com a direita quando o assunto é questão racial. “Temos de contestar formulações dominantes inclusive dentro da esquerda!”, disse.
De acordo com Pejigan Rafael Pinto, é necessário fazer parte da solução. Ele ressaltou também a urgência para haver mais candidatos negros em vez de apenas serem levados votos para a legenda.
“Nós temos de aprender a falar como maioria! Se fazemos parte do problema, queremos fazer parte da solução”, afirmou. Segundo ele, a nossa presença é um ato revolucionário e apontou avanços ao citar o exemplo de pessoas negras nas universidades. Ainda jovens negros cabiam em uma Kombi à época de sua formação no ensino superior.
Mais tarde, em outro momento, a deputada estadual Leci Brandão falou sobre sua trajetória na política. “Isso não era algo que queria ter feito, mas tenho uma missão. “Por isso eu estou na política”. Ela informou que todos os seus projetos são voltados para a população negra, como o registro de 26 de julho como o Dia do Orgulho Crespo e a inclusão do quesito cor em todos os documentos em São Paulo. De acordo com a deputada, isso facilitará o mapeamento da quantidade de pessoas negras no estado.
Estudantes
Gabriel Dias, estudante de história na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e militante da UJC (União de Jovens Comunistas), relatou que o desejo dele enquanto jovem negro é um trabalho de base sistêmico dentro das massas e a reorganização da esquerda e dos movimentos identitários, além da vinculação de tais grupos à luta de classes e à luta dos trabalhadores. “Eu quero a destruição da sociedade de classes e a construção de uma sociedade socialista.”
Gabriel Dias (Imagem: Thalyta Martins)
Vitória Pinheiro, estudante de ciências sociais da Unifesp e militante da UJC, falou sobre o motivo de sua luta política. “O futuro desejado por mim, enquanto jovem negra, começa com a autoconsciência de todos os indivíduos da nossa classe da opressão e a intersecção entre o racismo, capitalismo, a opressão de gênero e a LGBTfobia.”
Vitória Pinheiro (Imagem: Thalyta Martins)
A jovem acredita também que um passo para a transformação é não nutrir ilusões com o sistema e visar o horizonte socialista. “A luta antirracial acontece efetivamente junto com a luta anticapitalista. Entendo que só em uma sociedade futura a gente conseguirá superar todas as opressões atuando nelas.”
Elirone Rosa, estudante de Ciências Sociais na USP e integrante do Coletivo Urucum de Cinema Periférico, acredita que o plano político para a negritude no Brasil se concretiza com mais pessoas negras dentro da política, nas casas legislativas.
Elirone Rosa (Imagem: Thalyta Martins)
“Precisamos de mais Lecys, mais Marielles, e de mais representatividade dentro dos espaços de poder”, afirmou. Ele também acredita que um avanço seria a eleição de um presidente negro no país. “Mas não um que tenha só no tom de pele as questões pretas! Precisamos de um presidente que levante a bandeira antirracista no congresso” Por último, ele aponta a descentralização da política como espaço de poder. “A política deve ser feita e pensada pelo povo negro e pobre, e não pelos seus ‘representantes’”.