Com objetivo de analisar as condições de vida urbana e as desigualdades que cercam a população negra de Salvador, o Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA) e a Rede Comissão de Articulação e Mobilização dos Moradores da Península de Itapagipe (CAMMPI) acabam de lançar o Observatório do Racismo Ambiental (ORA) na Península de Itapagipe, região que compreende 14 bairros localizados na Cidade Baixa e que tem em sua composição maior parte da população feminina e com 90% de pessoas negras que, cotidianamente, enfrentam as desigualdades territoriais de uma das cidades mais negra do país.
Para além das análises, o Observatório vai funcionar como um espaço virtual de mapeamento do racismo ambiental na cidade, bairros, distritos e subdistritos, tendo como referência as estratégias adotadas no desenvolvimento territorial e comunitário da cidade. A previsão é que os dados sejam lançados no próximo mês.
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A definição de Racismo Ambiental se configura como uma das vertentes do racismo institucional e sistêmico, submetendo grupos étnico-raciais a se deslocarem para territórios onde são excluídos socioambientalmente e das políticas públicas urbanas, sanitárias, de saneamento, de mobilidade enquanto outros grupos se apropriam de espaços urbanos de privilégio. A escolha pela Península de Itapagipe se deu a partir da sua apropriação e expropriação dos povos originários na Bahia, que culminam no racismo ambiental. Segundo o geógrafo e coordenador do CAMA, Raimundo Nascimento, foi na Península de Itapagipe que surgiu a palafita de Alagados, considerada a maior do Brasil e das Américas.
“Diante dos dados podemos afirmar que Itapagipe é um território negro, feminino e com lideranças que constroem a luta e o enfrentamento a todas as formas de exclusão. É neste território que se constitui na década de 40 na cidade de Salvador a maior favela de palafitas das Américas – Alagados, talvez um dos maiores exemplos da operação do racismo sistêmico, revelado através da categoria do racismo ambiental”, explica o coordenador.
O Observatório, lançado na última terça (14), surge da necessidade de acompanhar o desenvolvimento desses territórios e monitorar os impactos que o racismo ambiental tiveram e ainda produzem nas comunidades.
“As práticas das instituições, à medida que implementam as políticas públicas, vem com uma carga do racismo. Um racismo sistêmico, avassalador que impacta por meio das suas políticas públicas urbanas ou rurais e de infraestrutura”, disse Raimundo durante a apresentação do Observatório.
Elaboração
Para a elaboração da pesquisa, o Observatório contou com um time de pesquisadores, geógrafos, profissionais de estatísticas, de direitos humanos, além da participação da própria comunidade. O estudo, que está em fase da sistematização dos dados, coletou dados para investigar como o racismo ambiental também estrutura as políticas públicas por meio de critério racial e de classe.
A iniciativa adotou três períodos de análise, sendo a primeira “Tecendo Redes do Racismo Ambiental”, que teve como objetivo a articulação de sensibilização e enfrentamento ao racismo ambiental no território. A mobilização teve participação de organizações sociais da Rede CAMMPI, de escolas públicas e privadas locais, além de jovens, mulheres, homens, e da comunidade LGBTQI+.
O segundo período foi voltado para a formação dos integrantes do Observatório e o aprofundamento dos conceitos e debates sobre racismo ambiental em espaços urbanos e rurais das cidades, além da apresentação das práticas de violação de direitos nos territórios negros e os impactos do racismo ambiental.
Já a última etapa foi o lançamento do Observatório do Racismo Ambiental, que culmina com a apresentação dos primeiros resultados da pesquisa e análise dos dados produzidos sobre o território da Península de Itapagipe.
Mais informações sobre o Observatório do Racismo Ambiental podem ser conferidas nas redes sociais do Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA) no Instagram (@cama.ong) ou pelo Facebook.