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ONU Mulheres apresenta em Cannes dados inéditos sobre desigualdade de gênero e raça no audiovisual brasileiro

Estudo inédito com 88 produções mostra que mulheres ganham 76% do salário de homens e negros ocupam menos cargos estratégicos; iniciativa busca transformar o setor
Uma mulher negra profissional do audiovisual.

Uma mulher negra profissional do audiovisual.

— Reprodução/Freepik

21 de maio de 2025

A 78ª edição do Marché du Film, em Cannes, recebeu nesta semana a apresentação de dados inéditos sobre a presença de mulheres e pessoas negras em posições de liderança no setor audiovisual brasileiro. 

Os números foram divulgados pela ONU Mulheres Brasil durante os painéis “Brazil and France: Women in Leadership Positions” e “Voices of the Majority in Film: Brazil’s 54% who is Black Can’t Wait”, realizados nos dias 14 e 18 de maio, como parte da programação oficial do festival, que neste ano homenageia o Brasil como país de honra.

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As informações integram a Aliança por Mais Mulheres no Audiovisual, criada em 2022 e co-liderada pela ONU Mulheres e o Instituto +Mulheres, com o objetivo de mobilizar agentes do setor privado e promover transformações estruturais nas dinâmicas da indústria. O movimento ganha novo fôlego em 2025 com a adesão da ApexBrasil, por meio do programa Mulheres e Negócios Internacionais.

Dados preliminares: perfil da liderança e desigualdades

O levantamento, denominado “Pesquisa de Obras”, analisou 88 produções audiovisuais realizadas entre 2018 e 2022 por quatro grandes produtoras brasileiras. A coleta e parte da análise foram conduzidas pela startup Diversitera. O recorte se concentrou em posições estratégicas como direção, roteiro e produção. A conclusão indica um perfil dominante: liderança exercida por pessoas brancas, heterossexuais, sem deficiência, com idade média de 47 anos e baseadas na região Sudeste.

Mulheres representam 48% do total de pessoas atuando no setor técnico e criativo, o que sugere paridade em números absolutos, mas não necessariamente inclusão efetiva ou distribuição equitativa de funções de poder. A análise detalhada aponta que mulheres são maioria entre profissionais com ensino superior (57%) e pós-graduação (67%), e também entre os que acessaram políticas afirmativas — sobretudo mulheres negras.

Rendimento e gênero: disparidades persistem

Os dados de renda revelam desequilíbrios significativos. Homens recebem, em média, R$ 24.368,42, enquanto mulheres ganham 76% desse valor, ou R$ 18.652,54. Mulheres negras aparecem como o grupo com menor média salarial: R$ 13.187,50. Pessoas brancas apresentam rendimentos superiores em todas as faixas analisadas.

Em relação aos regimes de trabalho, mulheres brancas com mais de 40 anos aparecem em maior número sob contratos formais (CLT). Já no regime de prestação de serviços via pessoa jurídica, as mulheres são maioria entre os que recebem até R$ 360 mil por ano. Quando o rendimento é inferior a R$ 80 mil, a maioria é composta por pessoas negras.

Ausência de talentos negros em posições-chave

A pesquisa mostra que mulheres superam homens apenas em Direção de Arte e Roteiro Chefe. Por outro lado, não foram identificadas pessoas negras em cargos como Direção de Som, Direção de Fotografia, Direção de Produção e Direção de Arte. A ausência de diversidade nesses cargos estratégicos reflete barreiras estruturais para o acesso e ascensão de profissionais racializados.

Além dos dados objetivos, a pesquisa incorporou análises de percepção entre os profissionais. Mulheres e pessoas negras demonstram maior insatisfação com a diversidade representada nas narrativas em que atuaram (38,6% e 36,4%, respectivamente). Também manifestaram desconforto em relação ao reconhecimento pelos créditos recebidos (39% das mulheres e 45% das pessoas negras).

Outro dado relevante refere-se ao equilíbrio entre vida pessoal e trabalho: 20% das mulheres entrevistadas indicaram insatisfação nessa área. 

A cientista política Ana Carolina Querino, representante interina da ONU Mulheres no Brasil, avalia que os dados evidenciam a persistência de desigualdades profundas. 


“Essas populações continuam vulnerabilizadas. Quando o assunto é trabalho digno e bem viver, enfrentam lacunas salariais, discriminação, assédio moral e sexual, além de dificuldades no acesso a recursos e oportunidades”, afirma em comunicado à imprensa. Ela acredita que o setor audiovisual oferece uma oportunidade concreta de transformação com potencial de impacto global.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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