A desigualdade social, que inclui o acesso à renda, trabalho, educação, moradia e saúde, é o fator que mais contribui para desencadear ou agravar problemas de saúde mental na opinião de 49% da população negra de São Paulo. É o que afirma a edição de 2021 da pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais”, realizada pela Rede Nossa São Paulo. O levantamento traz dados sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e as consequências da discriminação no cotidiano da população negra na cidade.
Realizado em conjunto com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), o estudo mostra que o medo constante de sofrer abuso ou violência policial também é um fator decisivo na saúde mental de 45% dos negros da cidade. Já 42% das pessoas entrevistadas afirmam que têm grande insegurança de não saber lidar com racismo e sentem medo de sofrer preconceito racial.
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Para 47% dos paulistanos, a pandemia também teve um impacto maior sobre o trabalho e a capacidade de gerar renda das pessoas negras em relação às brancas. A concentração de serviços e postos de trabalho em regiões de maior renda, os desafios da mobilidade urbana e de acesso às oportunidades da cidade contribuem para para agravar e manter as diferenças sociais que sustentam o racismo, de acordo com a pesquisa.
Percepção da discriminação racial
O estudo aponta que houve queda leve, de 3 pontos percentuais, na percepção do preconceito em shoppings e comércios em relação ao ano anterior, quando havia sido notada uma subida elevada nos números, em comparação aos de 2019, mas prevalece a percepção da maioria da população (78%) de que há diferença no tratamento de pessoas negras e pessoas brancas.
Em escolas ou faculdades, 74% da população percebe diferença no tratamento de pessoas negras em comparação às brancas. Nas ruas e espaços públicos, a percepção é de 72%; no trabalho, 68%; no transporte público, 64%; em hospitais ou postos de saúde, 57%; no local em que mora, 48%; e no ambiente familiar, 32%.
“Alguns indicadores apontam que as pessoas estão esperando medidas mais práticas de combate à violência e responsabilização das pessoas brancas, entendendo que o problema racial é uma questão para toda a sociedade”, diz o estudo.
Melhorar a educação e o nível de informação sobre as questões raciais é a opção mais citada quanto ao papel das pessoas brancas no combate ao racismo (56% dos pretos e pardos), seguida de intervenção em situações de tratamento diferenciados entre brancos e negros (44% da população total).
Participar de protestos (físicos ou online) é a opção que apresenta maior queda quando comparado a 2020 (de 27% para 13%, em 2021), passando a ser visto por menos gente como uma ação válida de combate ao racismo. Se reconhecer como parte do problema também cai de forma acentuada (53% ante 47%).
Para os entrevistados do levantamento, as punições a policiais que são violentos com pessoas negras podem contribuir com a diminuição do preconceito racial. “Isso significa um melhor entendimento por parte da população sobre as complexidades que envolvem o racismo estrutural no Brasil”, pontua o estudo. Já o aumento da punição por injúria racial e o debate sobre o tema nas escolas apareceram como as medidas que mais contribuem para o combate do racismo na cidade de São Paulo.
O papel de empresas no combate ao racismo
Apenas 8% dos entrevistados não declararam alguma medida que as empresas deveriam adotar para assegurar um ambiente de trabalho sem racismo e apenas 2% dos apontaram que não existe racismo no ambiente corporativo da cidade.
“Ou seja, praticamente 90% da população paulistana afirma que as empresas devem prevenir e assegurar um ambiente de trabalho sem racismo”, diz a pesquisa. Ao mesmo tempo, 86% da população geral entende que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade.
Posicionar-se contra qualquer tipo de preconceito racial é a medida mais eficaz que uma empresa pode adotar para assegurar um ambiente de trabalho sem racismo para 46% da população total, chegando aos 61% na zona oeste da cidade.
“Ter canais próprios de denúncia é mais citado por pretos e pardos (37%) do que pelos brancos (29%), enquanto ter protocolos e políticas institucionais para dar encaminhamento aos casos foi a medida menos apontada, por 46% do total de entrevistados”, finaliza o informe.
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