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Paraisópolis pode ficar sem ambulância para socorrer vítimas da segunda onda da pandemia

21 de dezembro de 2020

Favela na zona sul de São Paulo tem cerca de 100 mil habitantes e mais da metade acima de 50 anos; segundo líder comunitário, Samu não atende aos pedidos de socorro e custo mensal de serviço particular é de R$ 54 mil

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: G10 Favelas

Se fosse uma cidade independente, a favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, estaria entre os 300 maiores municípios do Brasil, mas a realidade dos 100 mil moradores é pontuada pela ausência severa do Estado. Na segunda onda da pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, a comunidade corre o risco de ficar sem ambulância, serviço que era mantido pela própria comunidade.

De acordo com Gilson Rodrigues, coordenador nacional do G10 Favelas e líder comunitário em Paraisópolis, o Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) não atende na favela e foi necessária a contratação particular de ambulâncias para que os moradores pudessem ser socorridos.

“No começo da pandemia, a gente decidiu contratar o serviço porque era a solução para salvar vidas. Estamos há nove meses pagando uma equipe médica e ambulância para atender 24 horas. A partir de janeiro, mesmo com a chegada da segunda onda da Covid-19, não teremos como manter o serviço”, lamenta, em entrevista à agência Alma Preta.

O G10 Favelas é um bloco de líderes comunitários, empreendedores e ativistas de impacto social de comunidades de todo país. No Brasil, cerca de 14 milhões de pessoas moram em favelas.

“Nós decidimos entrar com uma ação contra a prefeitura, que é quem faz a gestão das ambulâncias do Samu na cidade, para que o governo faça a parte dele. Nós estamos fazendo há muito tempo a nossa parte, mas sem política pública específica fica mais difícil”, complementa Rodrigues.

As ambulâncias particulares pagas pela comunidade começaram a atuar no dia 23 de março e fizeram 10.455 atendimentos, segundo o líder comunitário. “São mais de 10 mil pessoas que não tinham a garantia de atendimento do Samu. Muitas pessoas que a gente atendeu foram salvas, mas não temos mais como manter. No novo ‘normal’, as pessoas ajudam menos e a gente não tem mais como pagar”, detalha.

O custo mensal é de R$ 54 mil e já foi de R$ 150 mil quando eram três ambulâncias,uma delas com respirador e dez profissionais de saúde. Agora são duas e o serviço será encerrado na semana do Natal.

Em 2021, Paraisópolis completará 100 anos de existência. A venda do loteamento começou em 1921 junto com a criação do Estádio do Morumbi e os terrenos eram vendidos com a promessa de ser “um pedacinho do ceú”. Em 2020 cerca de 3 mil famílias vivem em cima de córregos com esgoto não-tratado.

“Existem várias situações que deixam a gente, aqui em Paraisópolis, mais exposto ao coronavírus. Tem falta de água e a questão da infraestrutura com famílias grandes em casas pequenas. Quando está calor é muito calor e quanto está frio é muito frio. Quem mais tem se contaminado e morrido são as pessoas negras da favela”, pontua Rodrigues.

Em dezembro de 2019, quando nove jovens foram mortos em um tumulto durante um baile funk, os moradores também reclamaram que o Samu não apareceu. Os feridos foram socorridos pelos próprios moradores e pela polícia.

“Não é novidade ou segredo para eles que o Samu não entra na favela. É uma realidade imposta por eles mesmo. Estamos pedindo na Justiça que seja feita a prestação de serviço como já deveria ser”, pondera o líder comunitário.

Ainda de acordo com ele, a ação contra o governo municipal pode inspirar outras favelas a buscarem na Justiça o direito de ter os serviços de resgate de ambulância.

A Alma Preta entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo para saber sobre a instalação de um posto do Samu em Paraisópolis. Até a publicação desta reportagem, a gestão municipal não respondeu.

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