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Penteados para cabelos crespos passam a ser aceitos na norma militar da aeronáutica

A Força Aérea Brasileira foi a primeira corporação a adequar o regulamento de uniforme feminino; carreira militar tem sido opção entre os jovens devido à crise econômica do país

Imagem: Reprodução/FAB

Foto: Imagem: Reprodução/FAB

17 de outubro de 2022

Recentemente, a Força Aérea Brasileira (FAB) passou a aceitar penteados afro no seu regulamento de uniformes (Rumaer). É a primeira vez que a trança nagô com coque e black power curto são aceitos enquanto padrão da caracterização de mulheres negras parte do contingente. 

Nas Forças Armadas – que incluem Exército, Marinha e Aeronáutica – apenas a FAB inseriu os dois penteados no regulamento por enquanto. Segundo a primeiro-sargento Gabriela Oliveira*, a decisão lhe trouxe coragem para passar pela transição capilar, pois antes da inclusão de penteados para cabelos crespos, ela temia sofrer advertência caso deixasse seu cabelo natural. 

“Eu fiquei feliz quando soube porque entendo que é necessário um padrão na vestimenta e apresentação pessoal de cada militar. Mas confesso que sempre pensei que as normas eram pensadas apenas para pessoas brancas, e isso me deixava numa posição desconfortável”, comenta a primeiro-tenente. 

Carreira militar representa oportunidade de emprego

Gabriela Oliveira conta à Alma Preta Jornalismo que seguir a carreira militar não estava nos seus planos. No entanto, com a falta de oportunidades de emprego e diversas recusas em entrevistas, no final de 2017 ela decidiu tentar a sorte junto à Aeronáutica.

“É muito difícil para gente que é mulher negra conseguir trabalho no momento de crise nacional. Eu senti na pele o que é estar na base da pirâmide. Primeiro contratam os homens brancos, aí as mulheres brancas, e, se sobrar uma vaga de serviçal, aí se lembram que mulheres negras também precisam trabalhar”, comenta a militar. 

Atualmente, a taxa geral de desemprego no Brasil é de cerca de 14%, e a porcentagem de jovens entre 14 e 24 anos desempregados está em torno de 30%. Essa é a maior taxa anual desde 2012, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados pelo IBGE no fim de 2020.

Com a crise econômica, a procura pela carreira militar subiu nos últimos quatro anos, principalmente pela estabilidade de carreira e benefícios, como convênio médico. Em 2022, 43,9% dos brasileiros entre 16 e 26 anos avaliam seguir uma carreira militar. As Forças Armadas são as que mais atraem interessados: 47,5%. 

Entre os homens, o percentual dos interessados em entrar para Marinha, Aeronáutica ou Exército chega a 50,5%. Entre as mulheres, ele é de 44,9%.

A pesquisa foi feita pela Universidade de Oxford (Inglaterra), o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, da USP (Universidade de São Paulo), e as universidades federais de São Carlos (UFSCar), Minas Gerais (UFMG) e Pernambuco (UFPE).

Acolhimento e qualidade de vida

“Na verdade, eu sinto que a Força Aérea Brasileira me acolheu. Em um primeiro momento, esse ofício veio como meu ganha pão e oportunidade de dar à minha mãe uma condição de vida melhor. Agora com o meu cabelo natural sendo aceito, sinto que fui acolhida novamente”, salienta Gabriela. 

A primeiro-sargento destaca que a carreira militar ainda é vista como impossível pela sociedade, mas na verdade é uma profissão que permite que pessoas negras, vindas de regiões periféricas do país, possam levar a vida com mais dignidade.

“Eu odeio o fato das pessoas atrelarem as Forças Armadas em geral ao presidente [Jair] Bolsonaro [PL]. Ele não representa o que é a carreira militar, tampouco aprendeu sobre respeito, decoro, postura. Ele é a escória. Existem muitos militares negros a serviço do Estado brasileiro, e não servindo aos caprichos desse presidente mimado e imbecil”, comenta.

“Existe muita dignidade no trabalho que fazemos, homens e mulheres. Então eu entendo quando os jovens negros optam por seguir carreira. É uma oportunidade de ter qualidade de vida para quem veio de um contexto de escassez. Espero que com a troca de presidentes a sociedade consiga nos ver com mais empatia e compaixão”, finaliza a primeiro-sargento. 

*Gabriela Oliveira é um nome fictício criado para preservar a identidade da entrevistada. 

 

Leia também: “É absurdo que tenhamos um presidente que ataque parte da nação”, diz Najara Costa

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