Na cidade do Rio de Janeiro, um homem negro foi impedido de sair de uma unidade da Droga Raia pelo segurança do local, após ser acusado de furtar produtos no interior da loja no dia 8 de agosto. O caso foi registrado como constrangimento ilegal na 9ª Delegacia de Polícia Civil.
Em entrevista à Alma Preta, a vítima narra que entrou na unidade do bairro do Flamengo acompanhado de sua filha adolescente para comprar produtos cosméticos. Ele carregava uma sacola de uma compra feita anteriormente em outra farmácia, da qual ele tinha o comprovante fiscal.
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Como não encontrou o produto que desejava, o homem e sua filha se dirigiram até a saída do estabelecimento, mas foram impedidos pelo segurança da loja. O funcionário exigiu ver os itens na sacola para liberar os dois.
“Quando a gente chegou na portaria, ele pediu para ver a minha bolsa. Eu questionei o porquê, e o segurança falou ‘então você não vai sair daqui enquanto eu não olhar’”, disse a vítima, que preferiu não se identificar.
A vítima ainda conta que o funcionário tentou o levar para um local isolado no canto da loja, para aguardar uma suposta averiguação interna. Aconselhado por seu advogado, ele passou a gravar a situação.
Na gravação, à qual a Alma Preta teve acesso, o segurança se recusa a verificar os itens do homem e solicita, agressivamente, que não seja filmado. O funcionário também avisa que o gerente estaria verificando as imagens do sistema interno antes de liberar o rapaz.
“Foi a pior situação que eu já passei na frente da minha filha, estou vivendo um processo de despedaçamento muito profundo. É uma humilhação muito grande. Por um lado foi bom, para minha filha ver e aprender como se reage nessas situações. Mas é muito triste ver que por mais que a gente lute para que esse sistema de violência se encerre, ele continua. Isso não é só sobre mim”, desabafa.
No registro do Boletim de Ocorrência (BO), o segurança em questão alega que a desconfiança partiu de todos os funcionários, que, “através de olhares”, teriam pedido que ele monitorasse o homem e sua filha. Segundo a declaração, a desconfiança se iniciou, pois a família estaria próxima aos produtos mais caros.
João Vicente Cordeiro, advogado do caso, afirma que o ocorrido se trata de um clássico caso de racismo. Vicente aponta que, observando o depoimento do segurança, o vigilante foi requisitado pelos outros funcionários a observar e vigiar a vítima, como uma decisão conjunta.
“Não tenho a mínima dúvida que eles foram abordados dessa forma por serem pessoas negras. Muitas pessoas entram nas farmácias com sacolas e eu tenho certeza que clientes brancos não sofrem com essa abordagem. Tem um protocolo da instituição para isso”, declara o advogado.
Após o registro da queixa, a delegacia expediu um ofício para o fornecimento das imagens internas da farmácia. Porém, a empresa ainda não disponibilizou as gravações até o momento.
O advogado indica que buscará a responsabilização da empresa. Inicialmente, apenas o segurança responderá criminalmente pelo constrangimento ilegal. “O nosso objetivo é ter acesso a toda a gravação para analisarmos o contexto no qual a abordagem aconteceu e a partir daí entrar como uma ação indenizatória contra a [Droga] Raia”, completa.
O processo buscará o custeio do tratamento psicológico da vítima e sua filha, além de buscar estabelecer ações com a empresa visando combater o racismo e a discriminação nas futuras abordagens do estabelecimento.
Em nota, a RD Saúde, empresa varejista responsável pelas unidades da Droga Raia, afirmou estar contribuindo com as investigações relacionadas ao caso.
“A RD Saúde colabora com as investigações relativas ao episódio ocorrido em uma farmácia Raia localizada no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O caso também está sendo apurado internamente. A empresa reafirma seu compromisso em promover um ambiente de zero discriminação”, afirmou a empresa.