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Polícia ainda não tem pistas de crianças negras desaparecidas há nove dias em Belford Roxo

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5 de janeiro de 2021

Meninos negros de 8, 10 e 11 anos sumiram no fim de dezembro de 2020, quando iam brincar em um campo de futebol na Baixada Fluminense; “Não são os primeiros e, tristemente, não são os últimos. Se fossem crianças brancas, até a CIA já estaria investigando”, diz ativista

 Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução/Redes sociais

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A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro ainda não tem pistas concretas sobre o paradeiro de três crianças negras, com idades entre 8 e 11 anos, que sumiram há nove dias em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Entidades e movimentos populares em áreas de vulnerabilidade social ajudam nas buscas.

Lucas Matheus, de 8 anos; Alexandre Silva, de 10 anos; e Fernando Henrique, de 11 anos, desapareceram quando foram brincar em um campo de futebol por volta das 10h30 da manhã do dia 27 de dezembro, perto de onde moravam no bairro do Castelar. Lucas e Alexandre são primos.

Segundo a Polícia Civil, as investigações estão em andamento no Setor de Descoberta de Paradeiros da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). No domingo, 3 de janeiro, os policiais ouviram novamente os parentes das crianças e analisam imagens de câmeras de segurança, mas ainda não têm pistas sobre o paradeiro delas. Na mesma data, os movimentos sociais e familiares das crianças fizeram um protesto em frente a delegacia de Belford Roxo.

Entre janeiro e novembro de 2020, foram registrados 3.042 casos de pessoas desaparecidas em todo o Rio de Janeiro. Deste total, 769 desapareceram na Baixada Fluminense e 90 em Belford Roxo. Um em cada quatro casos de desaparecimentos registrados no estado acontece na Baixada. A taxa de pessoas desaparecidas na cidade de Belford Roxo é de 17 casos para cada 100 mil habitantes.

“Não são os primeiros e, tristemente, não são os últimos. O movimento das Mães de Acari surgiu por conta do desaparecimento de 11 crianças, há 30 anos. Isso é consequência e descaso. É a falta de políticas públicas, falta de cuidado com as pessoas que moram nas periferias, nas favelas da Baixada Fluminense”, afirma Mônica Cunha, co-fundadora do Movimento Moleque, que existe há 18 anos.

Segundo Mônica, a região da Baixada Fluminense “não existe para o Estado”. A resistência e a luta é feita pelo movimento organizado dos moradores para combater as desigualdades e a violência. “Os movimentos que nasceram pela luta da cobrança de direitos é que fazem alguma diferença e dão visibilidade para casos como esse. Se não fosse assim, se fosse só pelo esforço do Estado, seria normal crianças sumirem nessa região”, relata.

“Se fossem crianças brancas, até a CIA já estaria investigando”

A questão racial também é um marcador na desigualdade. “Se fossem crianças brancas, do Leblon, até a CIA já estaria investigando. Na Baixada, a maioria é negra. É o lugar para onde empurram os negros que não tinham direito de morar na cidade do Rio de Janeiro, para um lugar onde não tem direitos”, diz Mônica.

Na região, a realidade da violência é um fator que impacta o cotidiano dos moradores em territórios sob o comando das milícias. “Na Baixada Fluminense, o número de desaparecimentos é o maior do Estado do RJ junto com a zona oeste. Nós da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial e outros pesquisadores relacionamos isso à presença e domínio das milícias. Há também a hipótese do tráfico de órgãos vinculadas a nova forma de lucro das milícias. Mas é hipótese, por enquanto“, explica Fransergio Goulart , da Coordenação Executiva da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial-Baixada.

A busca pelas três crianças é feita com a ajuda das organizações que criaram campanhas e cartazes que são espalhados nas redes sociais, mensagens de texto pelo celular e em diversas regiões do estado. Por outro lado, tem surgido muitos trotes e informações falsas que aumentam a angústia da família.

A Polícia Civil informa que, em caso de qualquer informação que colabore para encontrar as crianças, a população pode ligar para o telefone da DHBF, no número (21) 98596-7442. O anonimato é garantido.

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