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Por homenagear Marielle Franco, município recebe ataques virtuais

10 de abril de 2018

Prefeitura de Franco da Rocha recebe xingamentos nas redes sociais após nomear espaço cultural com o nome de Marielle Franco

Texto / Anna Laura Moura
Imagem / Coletivo Frente Preta Rainha Quelé

O município de Franco da Rocha, localizado na zona periférica da grande São Paulo, foi alvo de xingamentos e ataques na página da prefeitura no Facebook. O motivo foi o nome dado ao novo espaço cultural, inaugurado neste sábado (7) na Rua Dona Amália Sestine, número 85 no bairro Companhia Fazenda Belém.

A Casa de Cultura foi nomeada de Marielle Franco em homenagem à vereadora assassinada com quatro tiros na cabeça no dia 14 de março. A designação causou revolta em alguns moradores, que tiveram a iniciativa de atacar a página da prefeitura e também o evento criado para a inauguração.

Manifestações

Os argumentos partiam da ideia de que o nome deveria ser de algum franco-rochense com uma história que representasse a cidade. Já outros internautas apontaram que Marielle não conhecia o município e por isso não deveria ser lembrada. Outras falas giravam em torno da trajetória da vereadora. Ela foi chamada de “maconheira nojenta” e “defensora de bandidos”. Além da revolta cibernética, foi organizado um manifesto em frente à prefeitura, tendo origem na internet com a hashtag “#mudaonome”.

Um grupo de militantes negros, moradores do município e integrantes dos coletivos Liberdade e Luta, Comunidade Negra de Francisco Morato e o Frente Preta Rainha Quelé, organizaram um ato de repúdio aos ataques que a página da prefeitura e a página do evento de inauguração estavam recebendo.

“A memória de Marielle Franco precisa ser protegida e defendida, porque ela não foi apenas mais um ponto da estatística trágica do genocídio da população negra. Marielle foi uma das mais ferozes lutadoras, a ponto de ter sua vida brutalmente interrompida pelos seus inimigos, porém suas ideias revolucionárias permanecem vivas em milhões de pessoas, ela se tornou a semente de um novo futuro que se faz presente na luta de outros militantes”, afirma Bernardo Carvalho, 26, analista de comunicação, professor de Sociologia e membro do coletivo Frente Preta Rainha Quelé.

Para Bernardo, pessoas que são contra os direitos humanos e preconceituosos com a luta antirracista, LGBTQ+ e contra o movimento que busca direitos iguais, querem, na verdade, silenciar esses ideais. “Termos um equipamento cultural no centro da cidade que homenageia a vereadora, é fundamental para lembrarmos que sua morte não foi em vão, e que seus ideais permanecem vivos em todos que vão descobrir a sua história no decorrer do tempo”.

O coletivo Frente Preta Rainha Quelé alegou que todos os comentários feitos na página e no evento da rede social eram de cunho racista e fascista, e que a revolta dos moradores não era nada menos do que aversão à figura de Marielle, “uma vez que existem muitos franco-rochenses já homenageados nos espaços e ruas da cidade, mas que não foram lembrados ou nem eram conhecidos”.

Em parceria com a Comunidade Negra de Francisco Morato, município vizinho, e também com o grupo Liberdade e Luta, o coletivo Fente Preta Rainha Quelé alegou em nota que a solidariedade não tem barreiras regionais, argumento que contesta o apontamento dos moradores contrários à nomeação. “A luta de Marielle Franco contra a Polícia Militar, contra o assassinato de jovens pobres negros nas favelas e contra a intervenção no Rio de Janeiro é sim motivo de orgulho e menção honrosa. Por isso defendemos que o nome da casa de cultura permaneça em memória da vereadora”, diz a publicação.

Ainda na nota, o coletivo franco-rochense Frente Preta Rainha Quelé também exigiu um posicionamento do prefeito Kiko Celeguim (PT). O prefeito pronunciou-se pouco tempo depois mantendo a decisão de nomear o espaço com o nome da vereadora. O texto publicado em seu perfil, alega que Franco da Rocha não é limítrofe e toda a luta deve ser valorizada.

“Mortes como essas acontecem todos os dias, mas a maioria delas não ganha as manchetes de jornal. Acontecem também aqui em Franco da Rocha: temos a nossa parcela nada desprezível de crimes que permanecem sem solução e sem punição, mesmo passados vários anos”, disse.

“A ideia é lembrar, por meio dessas duas mulheres, a importância de não nos acostumarmos a toda essa violência e impunidade. Devemos fazer algo. Para que não haja mais Marielles, Kleias, Carolinas, Robertas. Para que os espaços públicos com os nomes delas sejam uma lembrança diária de que precisamos mudar nossa situação. (…) Eu, franco-rochense, homem, branco. Ela, carioca, mulher, negra. Mas eu ainda estou vivo. Ela não”. A menção do prefeito à Kléia refere-se à praça localizada na parte de trás da Casa de Cultura nomeada de “Kléia Alves”, negra e moradora de Franco da Rocha que foi morta pelo companheiro. Um crime de feminicídio.

Inauguração

Um protesto ocorreu durante a inauguração da Casa de Cultura no sábado, dia 7. A integrante do Rainha Quelé e universitária, Sabrina Tavares, 30, fez uma fala. Nela, disse que o município de Franco da Rocha sofre a mesma influência da onda conservadora que está sobre o país. “Não toleraremos os extremistas e fascistas que apareceram na internet e em lugar algum. Eles não passarão nunca”, afirmou.

O evento, que antes seria uma festividade munícipe, virou um espaço de protesto e reivindicação do movimento negro, pois vários militantes negros e moradores da cidade que não faziam parte de nenhum coletivo se juntaram para prestigiar e somar na luta.

A Casa de Cultura Marielle Franco foi inaugurada às 19h sob os gritos de “Marielle, presente!”.

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