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Por intolerância religiosa, segurança atira contra candomblecistas

Crime aconteceu em São José dos Campos, no interior de São Paulo, quando um grupo de religiosos pegava um punhado de terra na rua; Polícia Militar não registrou o caso como intolerância religiosa

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Acervo Pessoal

marca do tiro disparado por um segurança de cemitério em religiosos

Foto: marca do tiro disparado por um segurança de cemitério em religiosos

24 de agosto de 2021

Um segurança particular da empresa Vip Master disparou quatro tiros contra um grupo de religiosos no meio da rua, em frente ao cemitério Memorial Bom Retiro, na cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo.

Era final de tarde do dia 19 de agosto, quando o grupo recolhia um punhado de terra na rua  para um ritual religioso que seria feito em outro local. “Temos alguns costumes religiosos e um deles, feito para Exú, era recolher terra na porta de um cemitério. Estávamos pegando um pouco de terra bem distante do portão, do lado de fora, e um segurança veio de dentro do cemitério ofendendo todo mundo”, conta o babalorixá Diego de Ogum.

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De acordo com o babalorixá, outro segurança apareceu armado e chamou todos de “macumbeiros safados”, entre outras ofensas. O segurança também teria gritado para que não fosse recolhida a terra.

Os religiosos mostraram que estavam levando uma quantidade pequena de terra, dentro de um saquinho de supermercado, e decidiram ir embora sem criar confusão, pois o segurança estava armado. Quando eles entravam no carro, o segurança disparou quatro tiros contra o grupo.

Um dos disparos atingiu o carro. “Depois eles ainda pegaram um veículo no cemitério e nos perseguiram pela estrada por cerca de 800 metros”, relembra o babalorixá.

O grupo chamou a Polícia Militar para relatar o crime e pedir ajuda. Os dois policiais que atenderam a ocorrência foram até o cemitério e conversaram com o porteiro. Segundo esses policiais, com base no relato do porteiro que negou ter havido os disparos, não era possível confirmar a história, por meio das imagens feitas pelo circuito de câmeras.

Crime não foi registrado como intolerância religiosa

O babalorixá Diego e os filhos de santo que sofreram o atentado à bala foram até a delegacia para tentar registrar a ocorrência, mas só conseguiram ser atendidos no dia 23 de agosto, às 14h. O delegado Fernando Patto Xavier solicitou uma perícia na marca de tiro que ficou no carro e registrou a queixa como disparo de arma de fogo (artigo 28), ameaça (artigo 147) e constrangimento ilegal (artigo 146).

Não foi registrado o crime de intolerância religiosa ou considerado que o segurança atirou em direção aos religiosos. O babalorixá Diego de Ogum tem o terreiro em São José dos Campos desde 2011. O cemitério é um empreendimento particular e o local onde eles estavam retirando o punhado de terra é uma rotatória, espaço público, perto do cemitério.

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com o cemitério, a administradora da Vip Master  e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo para questionar sobre os desdobramentos do caso. Até a publicação deste texto não houve resposta. Caso haja, a reportagem será atualizada.

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