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Por que negros são convidados apenas para falar sobre diversidade?

17 de agosto de 2018

Evento “Jornalismo – As Novas Configurações do Quarto Poder”, promovido pelo SESC Vila Mariana, tem baixa presença de pessoa negras na programação; pretos e pardos costumam ser chamados para assuntos relativos à moda ou cultura

Texto / Anna Laura Moura
Foto / Pexels

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O SESC Vila Mariana promoveu de quarta-feira (15) até esta sexta-feira (17) o evento “Jornalismo – As novas configurações do quarto poder”. O objetivo do seminário era debater e refletir sobre as práticas jornalísticas atuais e como tem sido o desempenho da imprensa como formadora de consciência política e social.

As mesas que aconteceram foram compostas por diversos professores acadêmicos, jornalistas e escritores nacionais e internacionais. Temas como redes sociais, fake news, jornalismo cultural e sociedade foram debatidos. A única questão que não tem coerência com a premissa da atividade é a composição racial dos convidados que eram majoritariamente brancos.

O ponto crucial a ser debatido é por que profissionais, militantes, acadêmicos e escritores negros só são lembrados quando a pauta é diversidade, cultura e temas do gênero. Por que negros não são chamados para debater política, finanças, cidadania, mercado, entre outros temas?

A arquiteta e colunista da revista Marie Claire Stephanie Ribeiro afirma que na atualidade na qual o jornalismo impresso passa por forte transição para as mídias digitais, eventos e debates sobre a questão atual do Jornalismo precisam ser discutidos em todos os âmbitos, não em nichos específicos. “Onde estão as pessoas negras discutindo jornalismo no Brasil? A falha da comunicação não tem a ver também com o modelo antigo de quem ocupa esses espaços?”, indaga.

Stephanie cita uma frase da cantora Beyoncé para a revista Vogue, em que ela afirma que contratar pessoas que fazem parte do seu ciclo de amigos ou conhecidos não funciona mais. “Não adianta mais fazer a manutenção destas redes se não promovem nenhum tipo de pensamento ou de realidades diferentes. Isso tem a ver com território, cor e gênero”, explica.

“Este evento do SESC e tantos outros me incomodam em vários aspectos, por causa dessas velhas práticas de pessoas que pensam que estão fazendo algo novo. Os negros ainda são minoria e esse olhar não muda. Essa chefia masculina e branca não muda.” Stephanie diz também que sua crítica a estes eventos que mudam o local, mas continuam com a mesma ideia, é direcionada não só à curadoria branca, mas também no que essa curadoria representa. O topo continua a ser ocupado por brancos.

Os recortes que são feitos devem abranger muito além de nichos limitados. A representatividade não será alcançada só com algumas cadeiras ocupadas por negros, e sim quando estes se tornarem maioria, assim como são no quesito populacional.

O outro lado

O Alma Preta entrou em contato com a assessoria de imprensa do SESC Vila Mariana. Em nota, a instituição se posicionou a respeito:

“O Sesc é uma instituição que realiza um trabalho fortemente pautado pelo seu compromisso com a diversidade. Atuamos de forma intensa em múltiplos campos, promovendo uma série de atividades com temas contemporâneos destinados a todos os públicos, faixas etárias e estratos sociais. A revista CULT, por sua vez, é um veículo de comunicação que sempre teve a diversidade dentre suas pautas. O seminário Jornalismo: As Novas Configurações do Quarto Poder é um evento com curadoria e realização da revista CULT e Sesc São Paulo com a proposta de fomentar discussões e reflexões relevantes a toda sociedade. Tendo isto em vista, no que concerne ao corpo de palestrantes, a pluralidade de vozes foi considerada em todo o processo de concepção do seminário. Entretanto, eventos desta natureza implicam em muitas variáveis, o que faz com que nem sempre o realizado reflita, na íntegra, o que foi inicialmente idealizado.”

 

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