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Pré-encontro de estudantes negros reúne mais de 30 pessoas no interior de SP

5 de maio de 2018

Reunião ocorreu em Campinas e contou com participações de alunos de diversos cursos da graduação e pós-graduação de universidades do Brasil. A programação do encontro, que ocorre em Araras ainda este mês, foi lida

Texto / Thalyta Martins
Imagem / Thalyta Martins

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O 2° Pré-Encontro de Estudantes Negras e Negros da Região Metropolitana de Campinas, que terá este ano o tema “Do luto à Luta – Queremos Estar Bem e Vivxs”, ocorreu na sexta-feira (4), no Ponto de Cultura e Memória Ibaô, em Campinas (SP). O evento foi organizado pela União Estadual dos Estudantes de SP (UEE), Ponto de Cultura e Memória IBAÔ, em parceria com a Margem 31 – Laboratório de Vivências e Formações Culturais, Artísticas e Digitais -, ANPG (Associação Nacional de Pós Graduandos) e pelo Núcleo de Consciência Negra da PUC Campinas. 

As atividades iniciaram-se às 17h do dia 4, quando Fabricio Moraes, membro do Coletivo Margem 31, abriu os trabalhos, ao convidar um a um dos componentes da mesa para discussão: Andréa Mendes, artista visual e educadora social; Raquel Teixeira, advogada; e Marcos Paulo, estudante de lazer e turismo na USP Leste e membro da Pasta de Combate ao Racismo da União Estadual dos Estudantes (UEE). 

Logo em seguida, Samylle Baltazar fez uma intervenção ao cantar a música “Rosa do Morro” para os presentes. 

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Debates

Raquel Teixeira, do Coletivo RUA, inaugurou a mesa com a leitura de um trecho do livro “Jacobinos Negros”, de C.R.L. James, cujas palavras contavam sobre a condição de nossos antepassados em navios negreiros. Ela falou também sobre legado, falsa abolição, que completa 130 anos no próximo dia 13, sobre reivindicar e conhecer a nossa história e também a respeito de feminismo negro. 

Por meio de dinâmica em que o público lia o conteúdo de sete papéis entregues por Raquel a sete pessoas, ela expôs vítimas contabilizadas no Mapa da Violência em Campinas. Cada papel tinha o nome de uma pessoa que foi morta em decorrência de alguma característica relacionada à raça, sexualidade e localidade.

“Não naturalizar nada! Criticar tudo!” foi a palavra de ordem contra todas as justificativas do Estado quando alguma pessoa negra, pobre, lésbica, gay, bissexual e transsexual morre, como as frases “não devia estar ali”, “bandido bom é bandido morto”, “tinha de matar mesmo” e “era contra natureza”.

A advogada fechou a fala expondo a importância da convivência e do pertencimento.

Andrea Mendes falou sobre aquilombamento. “Faço parte de bandeira política diferente dos meus colegas, mas isso não impede que estejamos unidos. A luta é a mesma, querem nos matar a todos. As nossas diferenças partidárias precisam estar um nível abaixo das nossas lutas comuns de ser: pessoas pretas.”

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Marcos Paulo falou sobre acesso e transformação do ambiente universitário. “A gente constrói o encontro para democratizar mais ainda a universidade.”

De acordo com ele, a universidade tem histórico racista, justificou e justifica ações para colocar a população negra nos locais mais afastados dos espaços de poder. 

Outro ponto foi o genocídio. Segundo ele, isso não é só físico, mas também psíquico e intelectual. Essa afirmação foi mais uma vez foi confirmada quando um aluno da Unicamp deu depoimento no qual relatou que a professora o havia chamado de “burro”. Segundo Marcos, isso é alarmante. “Mortes da população negra por arma de fogo e por suicídio devem ser discutidas e resolvidas.”, apontou.

Segundo o IBGE, 67% da população brasileira será negra em 2030. Marcos Paulo apontou isso como mais um fator para aumentar a motivação em lutar e a agregar forças nas discussões sobre projeto de país para nós.

Encerramento

Vick Aisha, estudante de Letras da Faculdade de Americana e membra do Coletivo Trans Negro Boca Preta de Santa Bárbara do Oeste, declamou seus versos para o público. Os trabalhos lidos retratavam assuntos como prostituição e violências físicas e simbólicas, mas também amor.

A Preta que Habito, banda que nasceu em Campinas com Giovanna Machado, Larissa Machado e Monique Caetano, apresentou-se em seguida com instrumentos, voz e declamações de poesias.

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David Rosa, fundador do Ponto de Cultura e Memória Ibaô, puxou uma roda de samba nos últimos minutos e fez todos balançarem as saias rodadas de xita que estavam penduradas nas paredes.

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Próximos passos

O próximo evento é o 2º Encontro Estadual de Estudantes Negras e Negros, que acontece  em Araras entre 18 e 20 de maio, com o tema “Nossos Passos Vêm de Longe”.

A reunião pretende contribuir para a organização da população negra nas universidades e faculdades, além de ampliar a discussão sobre pautas raciais nesses espaços. O objetivo é também dialogar com novas formas de organização da juventude negra e ajudar na construção de processos de emancipação política desse grupo nos espaços do movimento estudantil e demais setores da sociedade.

A programação do evento é diversa, como oficina de Saberes da Ancestralidade com Ervas Tradicionais, ministrada pela Doné Rosa de Oyá, discussão sobre racismo religioso, lançamento do Livro “Frantz Fanon – Um Revolucionário Particularmente Negro”, de Deivison Mendes Faustino, pela Editora Ciclo Contínuo, discussões sobre mulheres negras, homens negros, LGBTs e saúde da população negra. Capoeira e noite de samba estão também incluídas dentro da programação. 

O encontro acontecerá no Sítio Quilombo Anastácia, assentamento rural localizado na cidade de Araras (SP).

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