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“Precisamos ler narrativas que nos tornem reais”, afirma escritora angolana

11 de novembro de 2018

Debate sobre como lemos, nos informamos e quem escreve foi tema de discussão na 7° edição da Festa Literária das Periferias (FLUP)

Texto / Pedro Borges
Imagem / Francisco Costa

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Hábitos de leitura, o poder da escrita, fontes de informação e como nos formamos do ponto de vista cultural foram os assuntos do debate “Quando lemos a nós mesmos”. A atividade aconteceu no dia 10 de Novembro, às 14h, na Biblioteca Parque Estadual, Rio de Janeiro.

O diálogo faz parte da 7° edição da Festa Literária das Periferias (FLUP) e contou com a participação de Carla Fernandes, escritora e jornalista, Mtima Solwazi, fundador da ROOTS Foundation, Paula Anacaona, escritora e editora. A conversa teve a mediação de Binho Cultura.

A proposta da mesa era debater a ausência de referências negras para jovens e crianças da diáspora africana. Os participantes foram estimulados a refletir sobre os impactos dessa lacuna na formação da identidade dessas pessoas e as possíveis estratégias de superação do problema.

A francesa Paula Anacaona, criadora da única editora no país europeu que publica autores brasileiros, contou sobre o seu processo de construção enquanto mulher negra. Filha de um pai negro e uma mulher branca, o casal se separou logo cedo e o pai não assumiu a paternidade. Ela então foi criada pela família da mãe e não teve uma referência negra em casa.

Passou a se identificar como mulher negra a partir da leitura de autoras negras, inclusive as brasileiras. A partir daí, começou a compreender processos de racismo pelo qual passou durante a vida.

Paula fez questão de destacar a importância da literatura afro-brasileira e da luta antirracista no Brasil como referência para o mundo e a França.

“Eu realmente acho o movimento negro brasileiro uma inspiração. Temas como afrofeminismo e racismo recreativo são termos que na França ninguém vai falar, ou somente algumas pessoas muito especializadas. Espero que essas ideias circulem mais”.

Carla Fernandes, angolana radicada em Portugal e coautora da coletânea “Djidiu – uma herança do ouvido”, algo como um “Cadernos Negros”, contou sobre os processos de aproximação entre a comunidade negra e imigrante na Europa. Para ela, há uma necessidade de negras e negros estarem próximos e compartilharem experiências.

A escritora também tratou sobre a importância de se passar essas obras para as crianças e adolescentes. Ela afirmou que se tivesse entrado em contato com esse tipo de literatura aos 15 anos, seria mais segura por conhecer outras experiências positivas sobre negritude.

“Eu me sentia um pouco isolada de todo mundo. Quando nós nos lemos, nós nos sentimos acompanhados. Parece que finalmente existimos. Parece que o mundo diz que a experiência negra não existe se não for uma experiência de dor, sofrimento, criminalidade. Precisamos ler narrativas que nos tornem reais”.

Mtima Solwazi, fundador da ROOTS Foundation em Trindade e Tobago, instituição de preservação das tradições orais, enfatizou a necessidade de cuidarmos não só da leitura, mas também da escrita.

Ele também pensa ser preciso ter cuidado com a própria escrita de autores negros. Mtima Solwazi pensa que nem todos estão conosco nesse processo de superação do racismo e das desigualdades.

“Algumas pessoas podem não representar as nossas narrativas. Podem ser as narrativas dos senhores de engenho. É importante ter o cuidado para quem a gente incentiva nossas crianças”.

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