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Premiado nos EUA, líder do candomblé é referência na luta pela liberdade religiosa

Líder do candomblé no Brasil fala sobre o reconhecimento de suas ações a nível internacional, a ligação das religiões de matriz africana com os direitos humanos e os desafios da liberdade religiosa no país

3 de fevereiro de 2020

Conhecido por sua atuação em defesa da liberdade religiosa, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e líder religioso Ivanir dos Santos foi premiado e homenageado nos Estados Unidos, em 2019 e em 2020.

O babalawo, nome dado ao sacerdote do candomblé, foi uma das cinco lideranças espirituais do mundo a receber o primeiro prêmio International Religious Freedom (IRF), entregue pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, em Washington, no mês de julho de 2019. Ivanir dos Santos foi contemplado ao lado de Mohamed Yosaif Abdalrahan, do Sudão; Iman Abubakar Abdullahi, da Nigéria; Pascale e William Warda, do Iraque; e Salpy Eskidjian Weiderud, do Chipre.

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Já em janeiro de 2020, o babalawo foi homenageado em Atlanta, na Geórgia, pelos trabalhos que desenvolve contra a discriminação sofrida pelos praticantes de religiões de matriz africana por meio de sua militância, pesquisas e publicações como o livro “Marchar Não é Caminhar”, lançado no ano passado, que aborda as faces políticas e sociais das religiões de origem africana no Rio de Janeiro. A homenagem foi realizada durante as atividade do 18° Culto e Café de Direitos Humanos Martin Luther King Jr.

O líder religioso atribui o reconhecimento de seu trabalho a nível internacional a uma construção coletiva de fortalecimento da resistência frente ao avanço do conservadorismo no Brasil.

“Assim como as bandeiras que carrego, sou também uma construção coletiva de resistência ao conservadorismo, aos ataques sistemáticos às liberdades, aos direitos humanos e à democracia. A luta pela liberdade religiosa no país vem sendo conduzida por ações em parceria com diversos setores da sociedade civil”, conta.

Militância em defesa de todas as crenças

Embora seja babalawo do candomblé, sua militância em defesa da liberdade religiosa não se limita a religiões de matriz africana. Ivanir também atua em defesa dos cristãos, muçulmanos e judeus perseguidos em todo mundo. Segundo ele, as religiões de matriz africana sempre estiveram à frente do tempo quando se trata do respeito e a luta pela equidade religiosa.

“As religiões de matriz africana têm em seus cerne a pedagogia africana que nos ensina a valorizar e conviver com as alteridades, diversidades e pluralidade. Somos ensinados a conviver e viver com o diferente respeitando a sua existência. A tolerância e a coexistência pacífica é e sempre será a base para a manutenção das nossas tradições, culturas e religiosidade”, explica.

Uma das ações de Ivanir dos Santos pela liberdade religiosa é a sua atuação como um dos organizadores da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa no Rio de Janeiro. Na última edição, em 15 de setembro de 2019, o evento reuniu cerca de 70 mil pessoas na Praia de Copacabana, entre elas representantes de todos os segmentos religiosos como os pastores norte-americanos Dr Keith Jennings, Rev Timothy Mcdonald III e Dra Charlene Sinclair.

Desafios da liberdade religiosa

Para o babalawo Ivanir dos Santos, o ponto central para a efetivação da liberdade religiosa das religiões de matriz africana no Brasil é o reconhecimento do estado de que a intolerância é resultado do racismo.

“O maior desafio é o estado brasileiro reconhecer que existe um problema, ocasionado pelas construções do racismo, que fomentam o ódio, a violência, o preconceito e a intolerância. Se o estado não reconhecer que a intolerância religiosa é uma questão de toda a sociedade dificilmente vamos conseguir construir e envolver toda a sociedade na luta pela defesa das liberdades”, sustenta.

“Acredito que o ponto focal é uma ação mais coesa do estado brasileiro como por exemplo a implementação de um plano nacional de combate à intolerância religiosa”, conclui.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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