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Professora negra denuncia racismo no Extra: ‘Me senti uma bandida’

O caso aconteceu em uma unidade do mercado na zona sul de São Paulo; cliente pagou a compra via PIX, mostrou o comprovante e funcionários só confirmaram o pagamento depois de ela iniciar uma live na internet
Fachada do Mini Mercado Extra, em M B'oi Mirim, na zona sul de São Paulo

Foto: Reprodução

14 de abril de 2022

A atriz e professora de teatro Ivone Dias denunciou em suas redes sociais que foi vítima de racismo ao tentar fazer uma compra em uma unidade do Mini Mercado Extra, em M’Boi Mirim, na zona sul de São Paulo.

Ao passar no caixa do estabelecimento, Ivone conta que pagou a compra de aproximadamente R$79 via PIX e mostrou o comprovante para a atendente, que alegou que o pagamento não havia sido registrado pelo sistema.

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“Ela chamou uma outra funcionária que disse que a compra não foi debitada no sistema e que eu teria que pagar de novo. Eu mostrei o comprovante novamente e quebrou o sigilo da minha conta ao mostrar o meu extrato bancário para comprovar também por lá que o valor da compra havia sido descontado do meu saldo”, relata Ivone, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

Mesmo depois de a cliente mostrar que o valor da compra foi cobrado de sua conta, Ivone relata que as funcionárias continuaram a afirmar que o pagamento não foi computado.

“Eu me senti como se eu fosse uma bandida, que estava tentando dar um golpe no mercado. Inclusive, eu pedi para a atendente confirmar os dados para eu não fazer o PIX para a conta errada”, detalha Ivone.

O caso aconteceu no dia 6 de abril, quando a professora passou no Extra para comprar alguns alimentos depois de sair da Casa de Cultura M’Boi Mirim, a 250 metros do estabelecimento, onde dá aulas em uma oficina de construção de fantoches e bonecos.

‘Uma pessoa branca não seria tratada igual’

Segundo Ivone, sem resolver o problema, as funcionárias do Extra cancelaram a compra e ela ficou no local à espera de uma solução por mais de uma hora. A professora considera que a situação se tratou de racismo por acreditar que não seria tratada da mesma forma caso fosse uma pessoa branca.

“Me trataram com extrema grosseria e indiferença. Será que se eu fosse uma mulher branca, de cabelos lisos e magra, eu teria sido tratada da mesma forma?”, questiona.

Enquanto ainda aguardava uma solução para o problema, Ivone iniciou uma transmissão ao vivo no Facebook para expor aos seus seguidores o que aconteceu. Ainda de acordo com o relato dela, só depois de ver a gravação é que o problema foi resolvido e os funcionários encontraram o registro do pagamento no sistema.

“Parecia que eu não tinha o direito de fazer uma compra com o dinheiro que eu ganhei com o meu trabalho. Só depois que os funcionários me viram fazendo a live é que eles começaram a me tratar com educação e acharam o pagamento em uma conta deles”, finaliza.

O que diz o Extra

Após o constrangimento, Ivone relata que ficou abalada emocionalmente e cobrou um posicionamento do Extra no Instagram. O mercado respondeu sua mensagem dizendo que a situação não estava “de acordo com os padrões de qualidade e atendimento da nossa rede”.

O perfil do Extra na rede social também informou no dia 8 de abril que o caso foi encaminhado para a ouvidoria interna e que em breve retornariam o contato com a cliente. Até esta quinta-feira (14) Ivone não recebeu um retorno.

A reportagem procurou o Grupo Pão de Açúcar – responsável pela gestão das unidades do Mini Mercado Extra – para saber se o caso é apurado, qual é o protocolo adotado pelo estabelecimento nos casos de pagamento via PIX e quais são as políticas adotadas pelo grupo para evitar que os clientes sejam tratados de forma inadequada.

Em nota, a assessoria de imprensa afirmou que “o Mercado Extra tem o respeito e a inclusão como valores e compromissos assumidos em seu Código de Ética e também em sua política de diversidade e promoção dos direitos humanos, e repudia quaisquer atitudes discriminatórias.”

Sobre o relato feito por Ivone Dias Gomes, a rede informou que “a transação via PIX não foi completada pela instituição financeira e, por isso, não constava como paga no sistema da loja. Por isso, foi realizado o estorno automático do valor pelo banco na conta da cliente”.

O Grupo Pão de Açucar disse ainda que trabalha para aprimorar seus processos e evitar que situações semelhantes aconteçam novamente.

“O Mercado Extra lamenta e pede desculpas à cliente por esse processo ter sido moroso e informa que está trabalhando para aprimorar seus processos, prezando pelo melhor atendimento e relacionamento com os seus clientes e evitar que situações como essa se repitam.”

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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