Na Brasilândia, periferia da Zona Norte de São Paulo, o projeto de horta orgânica “Arrenda Horta” busca transformar a vida da população com mais qualidade na alimentação e geração de renda. Idealizado por Dimas Reis Gonçalves no fim de 2019, a iniciativa instala hortas automatizadas em espaços pequenos nas lajes das residências.
“O objetivo é garantir a segurança alimentar e impulsionar a geração de renda tanto das famílias que têm a horta em suas lajes quanto das pessoas que podem ser empregadas para realizar o trabalho de cuidado das hortas”, explica Dimas.
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Inicialmente, o projeto mobilizou pessoas que já tinham um vínculo com a equipe do projeto, como familiares, vizinhos e pessoas que trabalham na área da saúde e de assistência social na Brasilândia. “Foi uma estratégia para impulsionar o projeto de forma mais segura e com custos menores, caso ocorressem erros na fase inicial”, acrescenta Dimas.
Saúde física e mental e combate ao genocídio
O consumo de alimentos nutritivos e orgânicos sem a adição de agrotóxicos pode melhorar a qualidade física e mental das pessoas. Dimas Reis Gonçalves destaca que a boa alimentação previne doenças como desnutrição e depressão.
“Quem tem a imunidade alta possui melhores condições de combater doenças. Na periferia, há pessoas que morrem de desnutrição e depressão. Nosso trabalho também contribui diretamente com o combate ao genocídio, visto que a população negra e pobre é alvo de um projeto de extermínio por meio da precariedade da saúde e da alimentação”, sustenta.
Um novo empreendedorismo negro
Desenvolvedor de projetos sociais e massoterapeuta, Dimas Reis Gonçalves sempre trabalhou na área social e de terapias complementares. Nos últimos anos, o empreendedor se dedicou à permacultura, que consiste na sistematização de tecnologias ancestrais e atuais de diversas áreas do conhecimento a fim de criar pequenos sistemas produtivos organicamente organizados e sustentáveis.
Ele conta que a ideia de criar a “Arrenda Horta” surgiu após uma das palestras do último curso de permacultura que participou. “O professor disse que era possível produzir 80 pés de alfaces em um metro quadrado. Isso foi um estalo para eu perceber como era possível gerar renda na periferia”, relembra.
Dimas ressalta que a área de permacultura é explorada majoritariamente por pessoas brancas e ricas que ganham dinheiro internacionalmente com esse modelo de agricultura. “É uma área que gera 22 bilhões de dólares e é totalmente elitizada. Eu penso que se gera tanto dinheiro pode ser uma solução para a disparidade econômica”, avalia.
Diferentemente de outras épocas, hoje a população negra empreende não apenas por necessidade como por oportunidade e deve buscar por mercados diferentes. É o que avalia Amanda Dias, coach de finanças e criadora da “Grana Preta”, plataforma que reúne conhecimento de gestão financeira empresarial e pessoal.
“Quem está na posição de empreender por oportunidade precisa começar a pensar que não faz mais sentido criar a 101ª loja de acessórios afro, apesar de também ser uma ideia legal. O momento agora é de olhar para o mercado e ver onde os negros podem se encaixar, de preferência em algo novo e que o povo negro tenha necessidade”, alerta.
Neste ponto, Dimas também é um exemplo de inovação no empreendedorismo com a “Arrenda Horta”, conforme explica Amanda Dias. “Estamos em um momento que vale buscar conscientizar o público de que seu serviço ou produto é natural, sem química. Isso agrega valor e mostra que seu projeto é diferente dos outros”, complementa a especialista.