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Psicólogos atendem negros e LGBTs a preços populares e auxiliam na inserção ao mercado de trabalho

Iniciativa busca empresas parceiras com políticas de diversidade e inclusão para indicar os pacientes

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/Instagram

Imagem mostra porta de sala de atendimento psicoterapêutico com uma placa amarela com os dizeres: Por favor, não bata. Em atendimento, aguarde.

23 de abril de 2021

O Grupo Reinserir presta auxílio psicoterapêutico a preços populares para pessoas negras, periféricas, comunidade LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer, intersexuais e assexuais) e os ajuda na inserção ao mercado de trabalho. O projeto fica em São Paulo e o atendimento durante a pandemia ocorre online.

Com a colaboração de empresas parceiras, a iniciativa promove processos seletivos humanizados e sem discriminação, além de oferecer orientação na elaboração dos currículos.

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A psicóloga e fundadora do projeto, Natália Silva, explica que os profissionais do grupo entendem a importância de pessoas em vulnerabilidade social serem atendidas por um sistema de saúde mental democrático, acessível e que leva em conta os recortes de raça, gênero e sexualidade nos atendimentos. “A nossa proposta é construir uma psicologia crítica, popular, inclusiva e humanizada”, afirma.

A digital influencer, maquiadora e drag queen Victória Cardoso passou por más experiências com a psicoterapia antes de ser paciente do Reinserir. Ela recorda que as experiências negativas decorreram do fato de ser mulher trans e possuir uma tatuagem no rosto.

“Muitas vezes quem é trans quer se sentir igual a todos, por isso buscamos alguém que entenda esse lugar de fala. Eu tinha um psicólogo que dizia coisas do tipo ‘você tem essa tatuagem no rosto porque você gosta de se aparecer’. Descobrir o Reinserir foi uma ótima surpresa”, relata.

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Victória Cardoso teve experiências ruins com a psicoterapia antes de conhecer o projeto Reinserir. Foto: Acervo Pessoal

Mercado de trabalho

Segundo a fundadora do projeto, antes de qualquer contratação acontecer é feita uma análise de como a empresa contratante lida com o público negro e LGBTQIA+. Questões como a existência de banheiros para as pessoas trans ou se o cabelo crespo das mulheres negras é aceito no ambiente corporativo são levadas em consideração. Feito isso, o grupo de psicólogos entra em contato com os pacientes para ver qual deles se interessa em participar do processo seletivo.

Foi o que aconteceu com a auxiliar de recursos humanos Magali Silva, contratada a partir de uma vaga oferecida pelo Reinserir. A profissional negra estava desempregada há nove meses.

“A Natália conduziu todo o processo de forma muito humanizada, inclusive perguntou aos candidatos se já haviam sofrido algum tipo de discriminação racial em outros processos seletivos. Fiquei encantada”, conta.

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Magali Silva conseguiu se recolocar no mercado de trabalho a partir do projeto Reinserir. Foto: Acervo Pessoal

A fundadora do projeto afirma que a recolocação no mercado de trabalho de maneira justa contribui para que os pacientes apresentem melhora na autoestima. Ela conta que os próximos passos da clínica é conseguir apoio de mais empresas de grande porte para aumentar o número de vagas disponíveis.

“As grandes marcas fazem campanhas de diversidade. Em contrapartida, estou com uma lista de pessoas negras e LGBTQIA+ em sofrimento por falta de emprego, pessoas que às vezes não conseguem pagar nem o nosso valor social de atendimento. Como essas grandes marcas podem contribuir com isso?”, questiona a psicóloga.

Atendimento psicoterapêutico e pandemia

Ainda de acordo com Natália, a procura por atendimento psicológico aumentou durante a pandemia, principalmente para a população mais vulnerável. A psicóloga destaca que atender o público negro nesse período é também perceber quem está mais exposto à Covid-19 por não poder trabalhar em home office, ou seja, quem trabalha em atividades operacionais ou em limpeza doméstica, por exemplo.

A profissional lembra também que o recorte racial é importante para entender os receios da população negra. Segundo a psicológa, alguns pacientes negros têm medo de usar a máscara justamente por medo da violência policial.

“Eles têm medo de tomar enquadro e serem ‘confundidos’. Com certeza a pandemia atravessa de maneira mais grave esse público”, pondera.

Leia também: ‘Pandemia afeta mais a saúde mental de pacientes negros e não cis, revela pesquisa’

O atendimento voltado às mulheres também é importante para manter o equilíbrio mental no período pandêmico. Natália salienta que mesmo as mulheres que podem trabalhar em casa lidam com a jornada dupla ou tripla: trabalho, afazeres domésticos, cuidados com os filhos e estudos, o que gera uma sobrecarga mental maior ainda nas periféricas.

Serviço:

Grupo Reinserir – Psicoterapia

Endereço: Rua Barão de Itapetininga, 273, 10º andar, Sala 1, República, São Paulo (SP)

Intagram: @gruporeinserir |  Site: www.gruporeinserir.com.br

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