Entrevistados pelo Alma Preta falam de acolhimento, amor, representatividade, resistência e diversidade
Texto / Pedro Borges e Thalyta Martina
Foto / Pedro Borges
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Uma pesquisa do Grupo Gay da Bahia (GGB) registrou em 2017 um aumento de 30% nos homicídios de LGBTs em relação a 2016. De acordo com o estudo, 445 pessoas LGBTs foram assassinadas ou cometeram suicídio no Brasil neste período. Entre essas pessoas, 34% eram negras.
Falar de jovens negros LGBTs é também uma questão de saúde e de qualidade de vida. Participantes negros da 22ª Parada do Orgulho LGBT de SP conversaram com a equipe de reportagem do Alma Preta sobre a condição social desse grupo social.
Carlos Daves (29), estagiário de direito, afirma que, ser negro e LGBT no Brasil, é algo complicado, pois há uma sensação de exclusão permanente.
“Ser negro e gay é ter uma missão na terra, é estar na margem”, afirma.
A Parada teve como tema este ano “Poder pra LGBTI+, Nosso Voto, Nossa Voz”. O evento foi organizado pela Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo (ONG APOGLBT SP).
Invisibilidade?
Monique Lorena (21), estudante de administração, destacou as dificuldades de tratar as pautas raciais e de sexualidade nos movimentos sociais, por se tratarem de dois grupos marginalizados.
“Às vezes a gente percebe que está muito separado, muito dividido. É muito difícil uma mulher negra levantar uma bandeira sem ser diminuída por uma mulher branca, por exemplo. Mas acho que o debate é bom pra gente tentar exercitar a empatia, tentar se entender e tentar se conectar”, afirma.
William Alencar (20), estudante de engenharia química, participou da parada pela segunda vez e falou para a equipe de reportagem que ser negro e gay no Brasil é não se sentir representado na mídia, ser sempre excluído no cotidiano e lutar pela quebra de preconceitos e estereótipos.
“Eu acho que quando a gente pensa em negro no Brasil, tem aquela imagem do cara alto, forte e viril. Então você ser um homem negro e gay é manchar a imagem de um negro no Brasil. Tem muita essa questão. Eu acho muito legal eu chegar aqui e ver tanta gente negra, ver aquela galera ali, ver eu aqui pra eu me sentir bem, entende? Eu acho que ser negro e gay no Brasil é resistir”, conta.
William César Venâncio, 27 anos, confeiteiro (Foto: Pedro Borges/Alma Preta)
Perguntado sobre o movimento LGBT e a aceitação e acolhimento de negros nesses espaços, ele citou um caso que ocorreu na Filadélfia, Estados Unidos.
“Na Filadélfia no ano passado, o movimento LGBT colocou mais duas cores na bandeira: a marrom e a preta, simbolizando a identificação da galera negra LGBT. Dentro do Brasil, um dos países mais negros fora da África, a gente não tem essa representação dentro do nosso movimento, entende? Eu acho bem complicado”
Quando questionado sobre como era ser gay dentro do Movimento Negro, ele expôs o caso de um jogador negro e gay na Inglaterra.
“Ele morreu sozinho e com depressão. Sofria racismo dentro do time de futebol, que tinha maioria branca, e sofria por ser LGBT com a galera negra. Tinha esse afastamento, sabe?”
Ainda de acordo com William, os movimentos sociais têm avançado no entendimento das singularidades da população negra e LGBT, que têm melhor acolhido essas diferenças de cada sujeito.
“Dentro do Movimento Negro, eu acho que melhorou muito”, afirma.
Um exemplo prático desse avanço são os debates organizados pelos coletivos universitários, que buscam intersecionar negritude e sexualidade.
“Na minha universidade, por exemplo, tem o Prédio de Extensão e Trabalho (PET) e a gente fez uma roda sobre negros e o movimento LGBT e tivemos uma discussão interessante”, afirma.