Em comemoração dos 40 anos de existência e de lutas, lendário grupo avalia rumos e novos caminhos para o combate ao racismo
Texto / Amauri Eugênio Jr.
Imagem / Divulgação
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O MNU (Movimento Negro Unificado), lendário grupo de combate ao racismo e responsável pela formação de lideranças negras nas últimas décadas, completa 40 anos neste sábado (7).
É indiscutível que as bases do grupo, cujas bases foram formatadas no ato feito em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, em 1978, deixaram como legado as diretrizes teóricas e práticas para as gerações seguintes darem andamento à luta antirracista, no que diz respeito à denúncia do racismo estrutural e ao empoderamento da população negra em todo o Brasil.
Ainda assim, se os primeiros passos foram relativos à formalização das denúncias da estrutura racista na sociedade e ao consequente acesso a espaços de poder, os rumos do combate ao racismo dependem de outras estratégias.
Alguns aspectos da conjuntura sociopolítica atual e, como consequência, da situação do povo negro na sociedade, estão diretamente relacionados à (in)segurança pública.
De acordo com o Atlas da Violência 2018, feito pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e com base em dados de 2016 do Ministério da Saúde, sete a cada dez pessoas mortas no Brasil são negras, ao passo que um jovem negro tem 2,7 vezes mais chances de ser vítima de crimes violentos em comparação com pessoas brancas.
Se a questão da violência urbana atinge de modo definitivo a população negra, outro aspecto tem papel importante para a manutenção do racismo estrutural – e que retroalimenta os indicadores de mortes violentas de pessoas negras, no que diz respeito à informação que chega à sociedade civil.
“É necessário desenvolver o enfrentamento contra a violência policial e fazer denúncias, assim desenvolver [desenvolver] formas na área de comunicação, que é um problema grave, pois a burguesia branca brasileira está com os grandes meios de comunicação. A esquerda vacilou, pecou nesse ponto e deixou nas mãos dela”, pontua Milton Barbosa, cofundador do MNU, sobre a relação entre violência urbana, impossibilidade de denunciar o genocídio negro e como esse cenário é noticiado: “temos de reestruturar a ação, inclusive na área de comunicação.”
Douglas Belchior, professor, fundador do movimento Uneafro e pré-candidato a um cargo como deputado federal, o MNU teve como um dos papéis fundamentais a reorganização do movimento negro no campo da esquerda. “Isto era algo que não havia aprofundamento e o MNU nos oferece isso a partir de sua construção.Os próximos passos serão a continuidade dessa luta, aprofundamento das elaborações e da prática antirracista, e a organização da classe trabalhadora brasileira a partir desse pressuposto.”
Para João Pedro Militão, filho de José Roberto Militão, um dos fundadores do movimento e militante da LSR (Liberdade, Socialismo e Revolução), corrente do PSOL, a base histórica do MNU será importante na luta antirracista contemporânea, em virtude de, entre outros motivos, a guinada conservadora da sociedade.
“A gente está em um momento no qual [está em pauta] a questão da nossa necessidade de organizar e encontrar uma solução”, pontua o jovem, ao mencionar que o trabalho histórico do Movimento Negro Unificado será uma das bases do futuro.
“O debate sobre a necessidade de se organizar e enfrentar esse sistema é o legado do MNU, pois é ele quem está resistindo e é a nossa retaguarda para fazer esse enfrentamento e esse debate”, finaliza.