Na infância, Nath Finanças sonhava em ser caixa ou gerente de supermercado quando brincava com o irmão. Hoje, a empresária de 26 anos que se tornou uma das vozes mais relevantes do Brasil quando o assunto é educação financeira prática e acessível, lança o Instituto Mulheres no Mercado Financeiro (MMF).
A iniciativa tem como missão aumentar a presença de mulheres, especialmente negras, no setor financeiro. O projeto vai oferecer cursos especializados em finanças e investimentos, totalmente acessíveis, incluindo pós-graduações, para preparar as mulheres para o mercado de trabalho. Além disso, o instituto realizará pesquisas sobre a participação de mulheres negras no setor.
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À Alma Preta, Nathália Rodrigues conta que a ideia do projeto surgiu após o desconforto em ser a única negra entre os maiores nomes do mercado financeiro. A empresária acredita que criar uma comunidade sólida vai ajudar a transformar a vida de muitas mulheres no Brasil.
“Estou há seis anos no mercado financeiro, um mercado dominado por homens, brancos. E quando tem uma mulher, é uma mulher branca. Eu não quero ser a única mulher negra ali, por isso criei o instituto. Quero transformar o mundo com a educação”, conta a escritora, palestrante e especialista em finanças.
Duas mulheres negras estarão na linha de frente do Instituto ao lado de Nath. São elas Andreza Rocha, CEO e Fundadora do AfrOya Tech Hub, que vai ocupar o cargo de CEO do projeto e Priscila Salgado, diretora de diversidade e inclusão da 99jobs, vai atuar na parte estratégica do instituto.
Suporte necessário para alcançar equidade no setor financeiro
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), é maior a participação masculina no mundo dos investimentos. Mulheres que investem são apenas 28% e os homens são 34%. Enquanto 64% das brasileiras não guardam dinheiro de jeito nenhum, entre os homens o percentual cai para 58%.
Entre as mulheres que investem, 83% delas guardam na poupança, enquanto os homens que guardam na poupança são 68%. Nath explica que esses dados mostra que “as mulheres brasileiras são mais conservadoras quando o assunto é investimento”, pois outras 7% também optam por investimentos mais simples (títulos privados), enquanto homens conseguem guardar em outros tipos de investimentos e arriscar um pouco mais.
Diante deste cenário, o Instituto MMF vai ofertar 5 mil bolsas de estudos até dezembro de 2025, com foco nas certificações mais exigidas pelo mercado, como CPA-20 e CEA. Visando a equidade, 60% dessas bolsas serão destinadas a mulheres negras, para promover uma inclusão efetiva, a fim de corrigir a sub-representação desse grupo no setor financeiro.
As certificações são parte importante da iniciativa. Nath compartilha que as autenticações são cruciais para quem deseja se tornar gerente de banco e outros cargos financeiros. O valor, no entanto, varia entre R$ 400 a R$ 800 reais. Um custo alto para aquelas que, em muitos casos, chefiam as famílias de baixa renda.
“Aumentar a presença de mulheres negras nessas qualificações, de mulheres no geral, é essencial para garantir não só a diversidade, mas a equidade. Mulheres certificas estão melhor posicionadas para alcançar autonomia financeira e também conquistar posições de destaque no setor amplamente dominado por homens”, explica a empresária.
Para aquelas que não receberem a bolsa, mas desejam adentrar no mercado financeiro, os cursos serão acessíveis por meio de assinaturas, com o plano Premium de R$ 32,90/mês, que pode ser pago semestralmente (R$ 197,40) ou anualmente (R$ 394,80). A proposta visa garantir uma educação de qualidade, voltada ao desenvolvimento de competências financeiras e de mercado, de maneira flexível e acessível.
Os temas da programação vão desde finanças e liderança até investimentos. As participantes ainda terão acesso a palestras com nomes importantes do setor, programas para a contratação das mulheres cadastradas e certificadas pelo MMF, mentorias, bolsas de estudos e acesso aos serviços da plataforma Nath Play.
Clube de investimentos para facilitar networking
Além disso, a ideia é criar uma rede de confiança para que elas criem autonomia para seus próprios investimentos. Os encontros serão presenciais e online com muitas trocas de conhecimento. Para isso, foi criado o Clube de investimentos, um espaço contemplado pelo projeto, onde as mulheres vão poder trocar ideias, aprender mais sobre o tema e fazer networking para aprender sobre o setor, independente da área de atuação.
“Você não quer trabalhar no mercado financeiro, mas quer aprender a investir de forma independente? Quer começar a investir nesse universo dominado por homens, que já tem um clube fechado para entender como investir, enquanto nós, mulheres, não temos esse acesso? Então, o clube de investimentos também veio como uma forma de trocar ideias e fazer networking para promover a compreensão do mercado financeiro”, completa a influencer.
Com essa ação, Nath enxerga o impacto das bolsas como algo “transformador”, pois essas mulheres terão acesso a carreiras bem remuneradas e ascensão social que pode transformar a realidade de muitas famílias. O fortalecimento vai contribuir para ampliar a presença feminina em cargos de liderança, pois atualmente, as mulheres negras ocupam apenas 3% dos cargos executivos nas grandes companhias, segundo o Instituto Ethos.
Para o lançamento, o instituto prevê uma série de eventos presenciais em cinco regiões do Brasil, de modo a promover a inclusão e o networking entre mulheres e especialistas do setor financeiro. Para o início das ações, a partir de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foram escolhidas cinco regiões do país para a apresentação do instituto: Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belém e Porto Alegre.
Os eventos serão pontos de encontro para 300 mulheres de cada cidade e devem incluir palestra de mulheres especialistas. “Vamos selecionar mulheres incríveis do mercado financeiro que não tem a visibilidade que merecem, além de C-Levels e CEO’s, porque eu quero que as mulheres saiam de lá inspiradas”, conta Nath Finanças.
‘Vão lembrar de mim quando falarem de educação financeira de forma acessível’
Em 2019, a Nath publicou seu primeiro vídeo no canal do Youtube, sem imaginar que o conteúdo mudaria a sua vida. Quando criou o projeto sobre educação financeira que impulsionou a sua carreira como influencer digital, ela não imaginava o impacto que teria na vida de muitas pessoas.
Ela conta que, além de testemunhos de mulheres negras, mães de família, que não acreditavam que podiam investir por não se sentirem representadas, ela recebe mensagens de empresas que fazem livros de educação financeira para crianças, obras nas quais ela é referência.
Por isso, o legado que ela quer construir no instituto tem mais uma missão: a de fornecer dados de investimentos, hoje inexistentes, sobre as mulheres negras no mercado financeiro.
O instituto vai realizar pesquisas contínuas sobre a participação de mulheres no mercado financeiro, gerando conhecimento sobre os desafios e oportunidades enfrentados por elas. Esses estudos vão servir de base para o desenvolvimento de novas estratégias e políticas voltadas para aumentar a inclusão e representatividade no setor.
“Eu não sou apenas uma influencer que vai fazer uma dica financeira e não tem impacto nenhum. A responsabilidade que eu tenho hoje é muito maior que eu. Porque eu tô construindo uma carreira de legado, pois vão lembrar de mim quando falarem de educação financeira de forma acessível”, pontua Nath Finanças.
Até novembro de 2025, o projeto também vai oferecer uma pós-graduação em Gestão Financeira e Mercado de Capitais. O curso terá foco em competências técnicas e práticas, alinhadas ao mercado financeiro e negócios, cobrindo planejamento financeiro, investimentos e gestão de riscos.
“O legado que eu quero construir no Instituto é esse. Eu não quero ser só a Nathalia que dá dicas financeiras no geral, porque já tem milhares que falam disso, mas eu quero construir um legado. É a base, se a gente não trabalhar com essa base, não vamos chegar lá. E eu quero chegar ‘lá’, e esse ‘lá’ é a gente ter um impacto de mulheres negras adentrando no mercado financeiro, ganhando bem e transformando a vida de suas famílias”, conclui a empresária.