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Quilombo na Bahia recebe titulação após 50 anos de disputa com militares

28 de julho de 2020

Título reconhece que 98 hectares são pertencentes ao quilombo, no entanto, área total quilombola chega a 301 hectares

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução

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O Quilombo Rio dos Macacos, localizado em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, na Bahia, assinou nesta terça-feira (28) o documento de titulação das terras feito pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A assinatura aconteceu na Superintendência Regional do órgão, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.

O título reconhece que 98 hectares são pertencentes ao quilombo, no entanto, a área total quilombola chega a 301 hectares. A comunidade existe há mais de 200 anos e enfrenta conflitos pelas terras com as Forças Armadas da Marinha do Brasil há quase 50 anos. A representante das cerca de cem famílias quilombolas da comunidade, Rosimeire Silva, afirma que o documento não é uma simples titulação, mas a “carta de alforria” dos que ali vivem. “Nesse momento estão presentes todos os nossos antepassados, nossos parceiros e irmãos de luta. Vamos continuar seguindo em frente na luta pelos nossos direitos!”, escreveu a quilombola, em uma publicação na página Somos Todos Quilombo do Macaco, no Facebook.

Com a assinatura dos títulos, a próxima etapa é o registro da propriedade das terras em cartório. A partir daí, a comunidade poderá participar de programas públicos que permitem o acesso à água encanada, esgoto sanitário, construção de moradias populares e até de estradas que permitam aos moradores o direito de ir e vir de suas casas com segurança. Já houve períodos em que a Marinha impediu a circulação dos que ali vivem. Além disso, as famílias afirmam que já foram alvo de ações de coação na intenção de expulsar as famílias residentes no local.

Em 8 de fevereiro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter o decreto presidencial que regulamentou, em 2003, que a demarcação de terras de comunidades quilombolas é constitucional. Após 14 anos de tramitação, os ministros mantiveram as regras de autodeterminação, pelo qual a própria comunidade determina quem são e onde estão os quilombolas, além do direito à posse das terras que eram ocupadas no momento da promulgação da Constituição.

Em 21 de outubro de 2019, a Justiça Federal confirmou decisão liminar sobre demarcação e titulação das terras da comunidade remanescente de quilombos de Rio dos Macacos, determinando que o Incra concluísse o procedimento de demarcação e titulação das terras no prazo máximo de 540 dias. Em 24 de dezembro de 2019, o Incra expediu os títulos da comunidade. Em junho de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) oficiou o instituto, cobrando o envio dos documentos à Bahia, para assinatura e conclusão do processo que confere a propriedade das terras aos quilombolas.

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