Um levantamento inédito, divulgado nesta terça-feira (20), aponta o racismo como a principal causa de discriminação no Brasil. As maiores vítimas são as mulheres negras.
Realizada pela ONG Umane, a nova edição da pesquisa “Mais dados, Mais Saúde” ouviu cerca de 2,4 mil brasileiros sobre suas experiências individuais de discriminação em diferentes situações. O estudo contou com a parceria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), do Instituto Devive e do Ministério da Igualdade Racial (MIR).
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
As informações extraídas das respostas dos participantes foram aplicadas na Escala de Discriminação Cotidiana, metodologia de pesquisa utilizada para medir experiências frequentes e rotineiras de discriminação que as pessoas enfrentam.
De acordo com a pesquisa, cerca de 84% dos entrevistados autodeclarados como negros relataram já ter sofrido discriminação racial. Mais da metade das pessoas pretas também vivenciaram tratamentos menos gentis (51,2%) ou respeitosos (49,5%) e atendimentos piores em estabelecimentos (57%).
Para os respondentes autodeclarados como pardos, os percentuais foram 44,9% para tratamentos menos gentis, 32,1% para abordagens menos respeitosas e 28,6% para piores atendimentos. Brancos atingiram o percentual de 13,9% para tratamentos menos gentis, 9,7% para menos respeitosos e 7,7% para maus atendimentos no comércio.
Cerca de 16,8% dos pretos e 20,2% dos pardos responderam que as pessoas agem como se tivessem medo deles, enquanto apenas 5,1% dos brancos relataram a situação. Em relação ao comércio, 21,3% dos pretos afirmaram ser seguidos em lojas. Brancos e pardos atingiram o mesmo percentual para essa discriminação, de 8,5%.
“Os resultados da pesquisa confirmam o racismo como um fator predominante de discriminação no país, impactando diretamente a vida da população preta e parda, especialmente mulheres pretas, que enfrentam uma sobreposição de discriminações por raça e gênero”, diz trecho do estudo.
As mulheres negras representaram o grupo que mais reportou duas ou mais razões para ocorrências de discriminação, com um percentual de 72%. Homens negros somaram 62,1% desta categoria.
Janaína Calu, consultora em equidade racial e saúde da Vital Strategies, organização global de saúde que contribuiu para a pesquisa, ressalta que a abordagem interseccional é crucial para compreender a complexidade das dinâmicas de discriminação, a partir de cada indivíduo.
“É fundamental que também seja considerado o fato de que os indivíduos frequentemente ocupam mais de uma posição socialmente desfavorecida e que essas podem interagir para moldar suas experiências. Por isso, a abordagem da interseccionalidade se faz central no processo de compreensão das dinâmicas de discriminação”, aponta Calu, em trecho da publicação.