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‘Racismo institucional faz crescer cada vez mais os negros em situação de rua’, diz especialista

Censo da Prefeitura de São Paulo mostra que a maioria das pessoas em situação de rua são negras e do sexo masculino

19 de fevereiro de 2020

O número de pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo chegou a 24.344 pessoas e é composto majoritariamente por negros autodeclarados (70%) e homens (85%), de acordo com o Censo realizado pela prefeitura.

O contingente de pessoas nessa condição é 60% superior ao de 15,9 mil, identificado no último levantamento, realizado em 2015. A taxa também superou em 32% a estimativa feita pela gestão de Bruno Covas (PSDB), que esperava contabilizar 18.216 moradores de rua.

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Para o integrante da Nova Frente Negra Brasileira, Eduardo José Barbosa, conhecido como Bob Controversista, o aumento da população em situação de rua é uma das consequências do racismo institucional.

“Pode-se afirmar que o surgimento dessa população se deve aos reflexos da exclusão social viabilizada sobretudo pelo racismo institucional, que atinge e prejudica cada vez mais um número maior de pessoas, em sua ampla maioria negras e negros fora do atual modelo econômico”, afirma o membro do coletivo formado por negros de diversos movimentos sociais atuantes na mudança do panorama socioeconômico e político dos negros no país.

Segundo o Censo, cerca de 45% da população em situação de rua vive na região da Sé e 19% na Mooca. As regiões mais periféricas, como Parelheiros, Perus e Sapopemba reúnem 0,07% desse contingente.

Entre as razões apontadas pelo levantamento para essas pessoas terem ido parar na rua estão razões como morte de entes queridos e brigas familiares (50%), problemas de saúde (5%) – como depressão e dependência química (33%) -, falta de moradia (13%) e desemprego (13%).

A maior parte da população de rua está concentrada em regiões centrais por causa da facilidade de acesso a serviços necessários para a sobrevivência, conforme aponta Bob Controversista.

“O centro de São Paulo é um território onde é possível encontrar acolhimento e alimentação, mesmo que sucateados e sem condições de atender uma alta demanda de pessoas. Existem várias ONGs e igrejas, por exemplo, que ajudam essas pessoas. Em raras exceções, os sujeitos encontram no consumo de álcool e drogas a saída para suas frustrações”, sustenta.

Descaso do governo municipal e ausência de políticas públicas

Integrante da Nova Frente Negra Brasileira, Bob Controversista, recorda que uma das manifestações do racismo institucional é a falta de políticas públicas voltadas para o acolhimento da população em situação de rua.

“É mais um braço do projeto higienista, fruto de séculos de abandono e inviabilização da participação popular na construção de políticas públicas de inclusão social via geração de emprego e renda, além do acesso à educação e moradia”, avalia.

O Movimento Nacional de População de Rua é uma das mobilizações sociais que alertam para a importância da participação popular no governo. Bob Controversista conclui que um dos caminhos é o Estado priorizar a população de rua e incluir representantes dessa parcela populacional na gestão.

“Tanto na esfera do executivo quanto na do legislativo, a maioria das pessoas são homens brancos, héteros, ricos e cristãos. Uma saída para o problema secular da população em situação de rua é a ocupação de representantes dessas pessoas nos espaços de poder e de decisão. Somente com um estado forte e que realmente chega à ponta do problema será possível reverter o descaso sofrido por quem vive na rua”.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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