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Raull Santiago: ”Como a gente mobiliza as pessoas em um cenário onde, se a gente agir, toma tiro?”

16 de maio de 2019

Depois do assassinato do professor de jiu-jitsu Jean Rodrigo Aldrovande, 39 anos, o Alma Preta entrevistou o ativista do Complexo do Alemão, Raull Santiago, que falou sobre a violência de Estado no território

Texto / Pedro Borges | Imagem / Reprodução | Edição / Simone Freire

Jean Rodrigo Aldrovande, 39 anos, um homem negro e professor de jiu-jitsu, foi assassinado no dia 14 de maio, com um tiro na cabeça por policiais, depois de chegar de carro na academia onde trabalhava, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ).

Raull Santiago, integrante do Coletivo Papo Reto, grupo que atua na denúncia de violações de direitos humanos no território, falou sobre a ação do Estado. Segundo ele, o professor fazia no território o que o governo deveria fazer: criar perspectiva para os jovens.

“O cara levou um tiro na cabeça. Ele saiu da sua casa, foi para o complexo do Alemão para dar uma oficina num projeto social. Ele, sozinho, com a equipe dele fazendo todo o processo que o governo não faz. Ele estava indo lá construir perspectiva na cabeça dos jovens”, disse.

O ativista de direitos humanos acredita que essa política de segurança pública, de violar pessoas negras e moradoras de favela, faz parte da história brasileira. “Eu vejo o fato com o mesmo olhar que a gente vê ao longo da história: morte da gente, do nosso povo, nosso lugar sendo criminalizado. E esse espaço onde o Estado, através da polícia, se sente à vontade para atirar primeiro para depois ver quem é”, afirmou.

Mobilização

No dia 14 de maio à tarde, moradores da região protestaram por conta do assassinato de Jean Rodrigo da Silva. Durante a manifestação, eles fecharam vias e queimaram objetos jogados nas ruas. Diante desse cenário de grande violência, Santiago aponta para as dificuldades de mobilizar as pessoas para exigir direitos.

“Como a gente mobiliza as pessoas em um cenário onde a gente tenta agir e toma tiro? Como eu vou bater na porta de um favelado e falar ‘mano, vamos lá fazer um protesto?’, se no protesto dá tiro de fuzil. A polícia entra de blindado e passa por cima da gente, o helicoptero passa atirando… É um cenário catastrófico que está se construindo”, disse.

A maior repressão aos territórios periféricos tem sido uma das bandeiras políticas do atual governador do estado, Wilson Witzel (PSC). No dia 4 de maio, por exemplo, Witzel divulgou vídeos em suas redes sociais participando de uma operação policial junto com o prefeito da cidade de Angra dos Reis, Fernando Antônio Ceciliano Jordão, a bordo de um helicóptero da polícia.

No vídeo, o governador verbalizou que “está iniciando uma operação com a CORE para dar fim à criminalidade”. O Instituto de Segurança Pública (ISP) registrou 434 casos de auto de resistência só nos primeiros quatro meses deste ano no Rio de Janeiro. Estes são os piores números dos últimos 20 anos.

“Temos um governador que anda de helicóptero, metralhando a favela, faz selfie posando com fuzil, mas em momento algum pensando em políticas que garantam vida e futuro na favela. Então é meio que assustador o que está acontecendo e o assassinato do professor Jean é mais uma dessas graves situações de uma pessoa que foi assassinada”, afirmou Raull Santiago.

Até a tarde desta quarta-feira (15), o corpo de outro jovem, também atingido durante a operação, não havia sido identificado. Ele foi levado para o Hospital Getúlio Vargas e não teve o estado de saúde divulgado. A Polícia Militar do Rio de Janeiro não confirmou que os disparos foram feitos por agentes de segurança do estado e alegou, em nota divulgada, que “o comando da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) está apurando a dinâmica de como o fato ocorreu”.

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