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Relatório examina táticas usadas em ataques racistas nas redes sociais

Publicação do Observatório do Racismo nas Redes identificou métodos e mecanismos utilizados em comentários racistas de postagens no Instagram
A imagem mostra a tela de um celular, com aplicativos de redes sociais.

Foto: Reprodução / Pexels

28 de maio de 2024

O relatório “Racismo pra quê: as estratégias dos discursos racistas nas redes”, publicado pelo Observatório do Racismo nas Redes, busca analisar e compreender as estratégias utilizadas nas narrativas dos ataques racistas nas redes sociais.

A partir do acompanhamento de comentários no perfil de 26 personalidades negras reunidas em seis diferentes categorias, o relatório mapeou e identificou os mecanismos utilizados para sustentar os comentários racistas. As seis categorias são: artistas, intelectuais, influenciadores, novos influenciadores, jogadores de futebol e jornalistas.

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A pesquisa notou duas formas “particularmente danosas” de circulação do discurso racista. A primeira se dá quando os conteúdos são publicados de maneira colaborativa. “Ao expandirem o alcance para além da base de seguidores do perfil monitorado, aumenta-se a chance de receber ataques racistas”, diz trecho da publicação. 

A segunda forma foi observada nos ataques direcionados ao jogador de futebol Vinícius Júnior e ao ator Lázaro Ramos, que pela utilização de repetição de palavras, frases ou emojis idênticos, sugerem um modo orquestrado e sequencial.

Para a pesquisa, foram analisados 2.989 publicações e 214.448 comentários relacionados a essas personalidades, entre o período de 1 de outubro de 2023 a 29 de fevereiro de 2024. A partir deste monitoramento foram identificados quatro métodos nos discursos racistas: a desumanização, a desqualificação, a invisibilização e a desinformação.

A primeira característica, de desumanização, foi reconhecida nos comentários no perfil do Vini Jr. Segundo o levantamento, 91% das postagens na conta do atleta no Instagram foram alvo de ataques, e entre janeiro e fevereiro de 2024, os comentários atacando o jogador tiveram 2.402 curtidas. 

“Os agressores usam uma variedade de emojis e gifs de macacos para contornar a moderação da plataforma, buscando desumanizar o jogador”, aponta trecho do levantamento.

Já a desqualificação pôde ser observada em comentários que negam a validade ou valor das experiências, perspectivas ou identidades de indivíduos ou grupos raciais. Ela foi percebida em postagens do jornalista René Silva sobre cultura negra e favelas e a realização do Festival Rio Parada Funk.

Nas publicações, houve múltiplos comentários classificando os frequentadores do evento como pessoas “feias”. O mesmo foi percebido em postagens de Lázaro Ramos, relacionado a divulgação do filme “Ó Paí, Ó 2”.

Nos dois casos, a fala racista dos usuários fez uso da dimensão da aparência dos frequentadores, tanto do evento de funk quanto na divulgação do filme, para desqualificar a qualidade, a importância e a pertinência dos eventos.

A faceta da invisibilização foi percebida toda vez que algum caso de racismo é denunciado pelos perfis monitorados, principalmente quando ganha repercussão nacional. Buscando abafar a discussão racial a tática utilizada é acusar as pessoas de vitimismo e militância exagerada.

Uma postagem da filósofa Djamila Ribeiro sobre o período pós-escravidão

e a falta de políticas de reparação foi alvo de uma série de comentários de desinformação sobre o processo de escravização ocorrido no período colonial. Mesmo contendo informações inverídicas nas narrativas, a plataforma manteve as respostas.

“A retórica adotada muitas vezes usa de expedientes da desinformação, por exemplo, para argumentar em favor da desqualificação da pauta racial. Em muitos casos, o revisionismo histórico é usado para negar ou minimizar eventos históricos significativos relacionados ao racismo, como a escravidão, o colonialismo e a segregação racial”.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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