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Renata Prado: “É impossível conscientizar a juventude negra se ela não se empoderar”

23 de fevereiro de 2017

Renata Prado é pedagoga, referência no tema sobre geração tombamento e uma das organizadoras da festa Batekoo. Ela é responsável por ministrar um curso sobre o tema em parceria do Coletivo Dijejê, que visa dar destaque à participação das mulheres e do grupo LGBTT no movimento.

Entrevista / Pedro Borges
Foto / Solon Neto

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Renata Prado é pedagoga, referência no tema sobre geração tombamento e uma das organizadoras da festa Batekoo. Ela é responsável por ministrar um curso sobre o tema em parceria do Coletivo Dijejê, que visa dar destaque à participação das mulheres e do grupo LGBTT no movimento. Faça aqui a sua inscrição. As últimas vagas podem ser preenchidas até o dia 5/03, domingo.

Qual a importância da geração tombamento para o debate acerca das opressões de raça, gênero, sexualidade e classe?

É necessário que a geração tombamento compreenda como funciona o sistema que foi imposto para a gente. Mas para isso acontecer, é preciso que a juventude negra se aceite enquanto negra e tenha orgulho disso. Antes de abordar qualquer tipo de assunto de cunho político com a juventude negra, é de extrema importância a discussão sobre identidade.

Não tem como discutir gênero, sexualidade e classe com base no recorte racial, se essa juventude não se entende enquanto negra. A partir do entendimento de identidade, a gente consegue avançar nas discussões falando sobre tais opressões.

Por que o empoderamento da juventude negra é um fator importante para o combate ao racismo e ao genocídio?

É impossível conscientizar a juventude negra a lutar contra o racismo se ela não se empoderar da sua negritude e não compreender sua identidade. Quando aceitamos nossa estética negra, estamos aceitando nossos traços, nossa beleza, e consequentemente elevamos nossa autoestima. A partir daí conseguimos avançar no debate da violência policial, por exemplo. O garoto negro que passou a se entender enquanto negro vai compreender com mais facilidade porque ele leva mais enquadro do que a maioria dos homens brancos.

Nilma Lino Gomes, doutora em Antropologia Social pela USP, nos ensina que: “As múltiplas representações construídas sobre o cabelo do negro no contexto de uma sociedade racista influenciam o comportamento individual. Existem, em nossa sociedade, espaços sociais nos quais o negro transita desde criança, em que tais representações reforçam estereótipos e intensificam as experiências do negro com o seu cabelo e o seu corpo” – GOMES, Nilma Lino, (2002) – Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?.

A partir disso, podemos considerar a importância do empoderamento estético no combate ao racismo, para que o indivíduo negro saiba se defender das estruturas racistas que estão no nosso contexto social.

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A geração tombamento não é o primeiro momento da história em que a comunidade negra se utiliza da estética para questionar os padrões sociais e normativos. Quais as influências históricas da geração tombamento e o que o movimento traz de novo para a luta?

Se observarmos os jovens que se intitulam como geração tombamento, podemos notar que o comportamento desse grupo é muito semelhante ao da juventude negra dos anos 50 e 60, que protagonizava os bailes black da época nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Somos organicamente influenciados pelo “Mandamento Black” do mestre Gerson King Combo, pela ideologia de Malcolm X, pela beleza da musa Sandra de Sá, entre outras referências negras.

Também somos muito influenciados pela cultura da juventude Jamaicana, que é muito semelhante à do Funk carioca e paulista. Dancehall é um estilo musical que se popularizou nos anos 90 e possui uma corporeidade muito semelhante ao Funk, além das vestimentas colorida e Old school, que a geração tombamento aderiu como referência de moda.

Para além de jovens negros, os protagonistas da geração tombamento são as mulheres e os LGBTs. Qual a importância disso?

Historicamente, a população LGBTT e as mulheres foram silenciadas e invisibilizadas em grande parte dos espaços sociais nos quais foram submetidos a conviver. Na escola, a pessoa que se enquadra em uma das siglas LGBTT, sofre discriminação por ser quem ela é, assim como as mulheres são tratadas como inferiores no momento do registro salarial.

Essas barreiras sociais fazem com que os excluídos se identifiquem, se encontrem e se organizem para viver de forma mais saudável. A geração tombamento é nada mais que a organização dos excluídos que se identificam e se ajudam a sobreviver nessa sociedade machista e homofóbica. 

Movimentos como esse são importantes para o pertencimento em massa das pessoas subjugadas dentro dos espaços sociais, além do fortalecimento e comunhão entre o grupo. 

Por que é importante participar de um curso de formação sobre geração tombamento? Quais elementos serão explorados durante as atividades?

Se atualizar academicamente é uma das ferramentas estratégicas para manter o diálogo com o novo. A geração tombamento é um movimento contemporâneo e participar desse curso é uma ótima oportunidade para compreender o pensamento dessa juventude negra e empoderada.

A ideia dos encontros é convidar os (as) participantes a viajarem pela linha histórica dos movimentos de juventude negra que influenciaram essa nova era. É uma oportunidade de comparar essas referências ao que acontece atualmente e destrinchar o recorte político que a geração tombamento carrega.

O que as pessoas interessadas podem esperar das dinâmicas e do curso de uma maneira geral?

Não será um curso denso. A história da juventude negra está no nosso subconsciente, nas fotos de família, nas histórias contadas pelos nossos mais velhos, que viveram de forma efervescente a cultura negra.

O objetivo do curso é resgatar a história dos movimentos culturais protagonizados pela juventude negra e que influenciaram nossa diáspora, dentro do âmbito cultural. É necessário buscar uma reflexão a partir desses pontos e dialogar com a geração tombamento, hoje.

 

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