“Malê” é um termo originado na expressão iorubá “imalê’’, utilizado para designar os negros muçulmanos que sabiam ler e escrever o árabe. No dia 25 de janeiro de 1835, um grupo com mais de 600 integrantes protagonizou uma das maiores insurreições de africanos escravizados no Brasil: a revolta dos Malês.
Há exatos 190 anos, a cidade de Salvador foi palco do maior movimento de luta por liberdade e subversão da lógica escravocrata em âmbito urbano. Os levantes também foram mobilizados contra a imposição do culto a religião católica.
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A revolta teve Manuel Calafate, Apígio, Pai Ignácio e Luisa Mahinin, mãe do jornalista e abolicionista Luiz Gama, como principais lideranças. Mahinin, apesar de não constar nos registros oficiais, teria tido participação estratégica e concedido sua própria casa como quartel da revolta.
Os malês arrecadaram fundos para adquirir armamentos e redigiram os planos de ataque em árabe, mas foram delatados. Mesmo com a denúncia, o quartel da Guarda Nacional que controlava a capital soteropolitana foi atacado pelo grupo.
Em menor número, os combatentes malês foram massacrados pela polícia e por civis armados que temiam o sucesso da insurreição negra. Setenta negros foram mortos e cerca de 200 foram levados aos tribunais da época. As condenações incluíram açoites, trabalho forçado, degredo e açoites.
Independente da condenação, todos os integrantes foram barbaramente torturados.
Pouco lembrada na atualidade, a Revolta dos Malês é resgatada por intelectuais, estudiosos e historiadores, que reforçam o feito histórico do grupo de negros muçulmanos. Para estudiosos, o apagamento sistemático das lutas do povo negro reforça o esteriótipo de que as pessoas escravizadas aceitaram suas condições, sem combate.
O apagamento da rebelião se assemelha ao motivo que levou os civis, à época, a participarem do massacre no dia 25 de janeiro. A branquitude, que outrora recorreu à violência para impedir a liberdade da população negra, hoje minimiza a história para condicionar a subjetividade dos indivíduos negros à sua própria narrativa de opressão.